O esforço que tem sido feito por vários países no mundo em fazer a transição de matrizes baseadas em carvão e óleo para a adoção demais fontes renováveis vem coberto de incertezas. A falta de um padrão e de diretrizes para essa transição foi um dos assuntos debatidos na última segunda-feira, 7 de outubro, no seminário Desafios de Energia no Brasil, promovido no Rio de Janeiro (RJ) pelo Grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A evolução da matriz energética brasileira nas últimas décadas foi ressaltada por Helder Queiroz, diretor da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis. Segundo ele, o país soube fazer bem essa transição, ao apostar e incrementar combustíveis e fontes limpas. Mas para o diretor isso não exime o país de elaborar políticas sobre o tema. Queiroz acredita que os esforços devem ser executados tendo o médio prazo como foco. Ele pede um esforço internacional para elaborar a transição. "Falar de transição na matriz internacional é complicado. Não vemos nenhuma instância internacional e acaba dependendo de recursos próprios", aponta.
De acordo com o professor do GEE/UFRJ Ronaldo Bicalho, a incerteza sobre que tipo de transição adotar vem trazendo dilemas, como a destinação de recursos e o valor dos investimentos necessários para a modernização do setor. "Como destinar recursos para uma transição que é incerta e como fica o smart grid se não sabemos como ficará o negócio da distribuição?", indaga. Para o professor, a segurança energética e a mudanças climáticas são temas correlacionado que vem dominando o setor. Segundo ele, a convergência será feita por meio da tecnologia, que vai fazer com que se mude dos combustíveis fósseis para os mais limpos.
Para Bicalho, alguns países tem experimentado sensações diferentes na sua transição. Os Estados Unidos, por exemplo, por conta da descoberta do gás não convencional, o shale gas, vem fazendo uma transição confortável, mas bastante debatida. O presidente Barack Obama não conseguiu criar nenhum tipo de penalidade para o uso de combustíveis fósseis e congresso americano quer acabar com incentivos a renováveis.
Já o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, classificou a transição americana como acidental, uma vez que o país nunca teve uma política de mudança climática e conseguiram reduzir suas emissões com o shale gas. Ele lembrou que grandes reservas de petróleo e gás recentemente descobertas no mundo estão fora do Oriente Médio, o que vai trazer impactos no preços e na geopolítica. Para ele, a transição é muito mais um esforço isolado dos países que um esforço conjunto. A China também merece atenção, já que tem reservas de gás e o governo tem investido em renováveis. Mas mesmos assim, as emissões de carvão do país aumentam em qualquer estimativa.
A Alemanha, segundo Tolmasquim, embora tenha sido o país que mais se preparou para efetuar uma transição de fontes fósseis para renováveis, foi o que mais teve reveses nesse sentido. Após ter desenvolvido uma política de incentivo às renováveis, viu a indústria perder a competitividade e reclamar dos custos com a energia. Ronaldo Bicalho, do GEE/UFRJ, classificou a intenção da Alemanha como a mais radical, por ter planejado a exclusão da fonte nuclear, mas também frisou a tentativa da indústria de interferir na transição. "Os industriais querem que a a transição seja ditada pelo mercado, enquanto outra parcela da sociedade quer quer ela seja conduzida pelo governo", concluiu. (Canal Energia)
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