Instalar um sistema de controle em tempo real com dados de previsão de chuvas e vazão dos reservatórios para calibrar a geração de energia nas hidrelétricas da Bacia do Tietê foi a primeira medida tomada pela AES Brasil nos preparativos contra impactos das mudanças climáticas. "Cenários com previsões futuras estão sendo incorporados ao modelo", informa Paulo Camillo, vice-presidente de relações institucionais.
Ele reforça que os efeitos do aquecimento global já atingem a hidrologia do país. "A percepção sobre o problema deve fazer parte da vida das pessoas e das empresas, sobretudo no setor de energia, usuário intensivo de recursos naturais", diz o executivo. O reflorestamento das bordas dos reservatórios, com intuito de evitar a erosão que interfere na disponibilidade de água, é também uma medida adaptativa.
Na distribuição de energia, para monitorar o maior vilão - os ventos que derrubam postes e fiações - foram instaladas estações metereológicas móveis. As subestações estão sendo digitalizadas para permitir o controle a distância, a partir de um centro de operações. "É preciso gerir riscos, porque quedas de energia podem afetar milhões de pessoas e causar grandes prejuízos", justifica Camillo.
A confiabilidade da oferta é destaque no recente estudo sobre a exposição do setor elétrico brasileiro às mudanças no clima, elaborado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds). O trabalho aponta necessidades de adequação à realidade climática, como "reduzir a dependência da geração hidrelétrica diretamente das vazões e assegurar a oferta adicional de energia por meio de outras fontes". O relatório sugere que as empresas considerem como risco estratégico a possibilidade de mudanças nos padrões de consumo energético devido ao maior uso de refrigeração e ar condicionado, em função da temperatura mais alta.
O tema ganha destaque na Bolsa de Valores. Neste ano, o questionário do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) foi alterado para que a adaptação climática tivesse um indicador próprio, distinto da mitigação, mensurando práticas e contribuindo para o tema entrar com mais força na pauta das corporações. "Em nível mundial, já se acredita que a adaptação é um caminho necessário e inevitável", analisa a diretora de sustentabilidade da BM&FBovespa, Sonia Favaretto.
A Private Sector Iniciative, rede mundial criada pela ONU, recomenda o imediato engajamento empresarial. "O avanço é tímido porque o setor empresarial considera o assunto um problema do governo", ressalta Mariana Nicolletti, coordenadora da Plataforma Empresas pelo Clima, na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ela adverte: "É hora de recuperar o tempo perdido e planejar investimentos para evitar riscos". O desafio envolve gestão e também tecnologia, inovações adaptativas. Mas a maioria das empresas não despertou: "As incertezas e a dificuldade de acesso a dados científicos pelo setor produtivo são barreiras". (Valor Econômico)
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