Em vez de se ater apenas à frieza dos números, os técnicos da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) precisarão levar em conta aspectos subjetivos na revisão tarifária da Light, responsável pela distribuição de energia na cidade do Rio de Janeiro. A companhia pede que a Aneel seja mais compreensiva com os furtos de energia, que fazem parte das perdas não técnicas das distribuidoras. Isso poderá abrir um precedente para o órgão regulador, forçando-o a adotar a mesma atitude em relação às demais companhias, avaliam analistas.
Edvaldo Santana, diretor da Aneel, e técnicos da agência estiveram recentemente em alguns locais da área de concessão da Light para averiguar a questão das perdas. A agência também criou um grupo de trabalho específico para tratar do problema. Os resultados da visita feita ao Rio de Janeiro, porém, só serão divulgados na revisão tarifária da Light, que será publicada no dia 7 de novembro. No dia 5 de novembro, a diretoria da agência reúne-se para deliberar sobre o assunto. Até lá, Aneel afirmou que não vai se pronunciar a respeito.
Em reunião com analistas de investimentos, realizada na quarta-feira à noite, em São Paulo, o diretor financeiro da Light, João Batista Zolini Carneiro, afirmou que a empresa espera ter sensibilizado os técnicos da Aneel. A distribuidora tenta convencê-los que o pagamento da conta de luz não depende apenas da renda dos consumidores. Há casos em que as pessoas temem ser hostilizadas se pagarem pela energia. "O avô [desse consumidor] já não pagava pela energia, o vizinho não paga e assim por diante", disse Carneiro.
Segundo ele, o aumento da renda, em vez de incentivar as pessoas a pagar pela conta luz, tem um efeito inverso: eleva as perdas de energia da companhia. Quanto maior for o poder aquisitivo, maior será a demanda por eletricidade. Isso tornaria a conta de luz mais cara, desencorajando a eliminação dos "gatos" (furtos).
Na área de concessão da companhia, 44% da energia distribuída não é paga pelos consumidores. Hoje, a empresa pode repassar para as tarifas um índice de perdas não técnicas de 32%. A Light pede que, no processo de revisão tarifária, esse percentual suba para 40,4% até 2018. Segundo Carneiro, isso aumentaria o caixa e daria fôlego financeiro para que a companhia continuasse investindo no combate aos furtos e às fraudes.
Se seguir as regras vigentes, a Aneel teria, ao contrário, de reduzir o nível de perdas não técnica da Light para 30,52% em sua revisão tarifária, que valerá pelos próximos cinco anos. Todos os esforços da Light estão voltados, neste momento, para esse problema, afirmou Carneiro.
Nas nove comunidades pacificadas, segundo a empresa, houve uma redução média nas perdas de 51,8 pontos percentuais e um aumento médio de 80,44 pontos percentuais na arredação. Essas áreas incluem Santa Marta, Cidade de Deus 1 e Borel. (Valor Econômico)
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