A grande hidrelétrica Santo Antônio, em Porto Velho (Rondônia), antecipou seu cronograma e já gera eletricidade. As obras prosseguem, assim como da vizinha Jirau, e no ano que vem ambas terão condições de reforçar bastante o sistema interligado nacional. Mas talvez o tempo correto do verbo seja o condicional. Essa oferta adicional de energia vai depender da conclusão de linhas de transmissão que transportarão a eletricidade gerada a partir das barragens do Rio Madeira até os principais centros de consumo na região Sudeste. Parte dessas linhas está prevista para entrar em operação neste primeiro semestre. Porém, as obras estão atrasadas. Para não se desperdiçar a energia de Santo Antônio, houve uma adaptação da rede de transmissão que abrange os estados de Rondônia e Acre. No entanto, em breve a oferta excederá consideravelmente o consumo local.
Como esses, há vários outros exemplos envolvendo empreendimentos no setor elétrico. A situação é mais preocupante no segmento da transmissão. Das 80 principais obras em andamento e originalmente previstas para serem concluídas em 2015, 52 estão com atraso. Na geração, 48% dos projetos previstos para 2014, ano da realização da Copa do Mundo no Brasil, estão fora do cronograma.
Ainda que as autoridades do setor tenham se apressado em garantir que o país terá no ano que vem a oferta de energia necessária para seu consumo, inclusive para o período de realização da Copa do Mundo, quando o Brasil deverá receber cerca de dois milhões de turistas estrangeiros e pelo menos 1 milhão de brasileiros devem se deslocar para as cidades que vão sediar os jogos. Para os eventos em si, de fato será possível adotar um esquema especial capaz de suprir qualquer emergência. Mas, ao longo do ano, o país dependerá da boa vontade de São Pedro.
Tudo indica que as chuvas do chamado período úmido de 2013 não serão suficientes para encher os reservatórios e armazenar água em volume que possa atender também ao consumo de energia elétrica em 2014. Assim, o risco de racionamento, historicamente em torno de 5%, se elevaria para 9%, índice considerado desconfortável. Não se pode dizer que essa situação decorra de falta de planejamento, pois regularmente têm sido feitos leilões voltados para a ampliação da oferta de energia. Os gargalos estão na execução dos empreendimentos. Dificuldades de licenciamento ambiental estão entre esses obstáculos, assim como questões burocráticas ou mesmo gerenciais.
Não se pode tapar o sol com a peneira no caso da energia elétrica. Certamente ainda há o que possa ser feito para se acelerar empreendimentos que sejam essenciais na montagem da equação do abastecimento de energia elétrica nos próximos anos. O governo deveria dialogar mais com o setor para identificar soluções práticas que possibilitem a remoção desses gargalos. (O Globo)
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