A redução nos preços das tarifas de energia elétrica deveria se dar com base no aumento da eficiência e da produtividade das empresas, não com subsídios via decreto. E as dificuldades financeiras que serão enfrentadas tanto pelas geradoras como pelas distribuidoras poderão colocar em risco a própria expansão do setor. A opinião é de Cláudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, um centro de estudos sobre o setor elétrico:
- Lamento que o setor elétrico, de extrema complexidade técnica e econômica, seja tratado de uma forma que traz vícios de discurso político-eleitoral.
Ele destacou que a redução das tarifas é artificial, uma vez que é feita por meio de subsídios e não por aumento da eficiência do setor. Além disso, esses recursos deveriam ser usados em setores como saúde, educação e segurança.
Sales disse que o setor elétrico está passando por uma situação financeira muito crítica por várias razões, o que pode comprometer seus investimentos na expansão. De um lado, as geradoras de energia vão ter uma redução da ordem de 70% em suas receitas, com a renovação dos contratos de concessão com base na medida provisória (MP) 579, do governo federal, usada para reduzir a tarifa de energia.
Por outro lado, as distribuidoras já tiveram uma perda de 30% em sua capacidade de geração de caixa nos últimos anos com a revisão tarifária. E, neste momento, estão arcando com os custos extras da geração térmica, que só serão ressarcidos na ocasião do reajuste de cada distribuidora.
- O setor elétrico era estruturado, capaz de atrair capitais, vinha se tornando eficiente de forma contínua. Agora está exposto a coisas que não são transparentes, cheias de artifícios fora da lógica econômica - disse Sales.
As distribuidoras de energia, por sua vez, estão preocupadas com os gastos extras com o pagamento da geração térmica, que é mensal, enquanto são ressarcidas somente por ocasião do reajuste das tarifas, que é anual.
O presidente em exercício da Associação Brasileira dos Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Marco Salgado, disse que a instituição está levando esse problema ao governo federal.
Segundo Salgado, somente em dezembro, por exemplo, o custo da geração térmica a ser pago pelas distribuidoras é de R$ 900 milhões, contra R$ 550 milhões em novembro.
- Essa questão é uma das coisas que preocupa as empresas a curto prazo, pois diminui sua capacidade de investimentos - disse Salgado.
Uma das propostas da Abradee é pagar o custo das térmicas via um dos fundos setoriais, como a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Outras possibilidades seriam o parcelamento dessa despesa, ou a concessão de um financiamento. (O Globo)
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