quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Governo nega falta de energia e diz que fará tudo contra racionamento

A escalada das preocupações com o fornecimento de energia obrigou o governo a vir a público defender a estratégia montada para atender à demanda por ele­tricidade e evitar a todo custo al­gum tipo de racionamento. Na tentativa de conter as especulações do mercado em relação a um eventual racionamento, as declarações do secretário execu­tivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, vieram antes mesmo da reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) - mar­cada para hoje - que vai avaliar a situação dos reservatórios.

Zimmermann negou a possibilidade de falta de eletricidade e alegou que o gasto com as térmi­cas, usadas para compensar a queda no nível dos reservatórios das hidrelétricas, não afetará a redução de 20,2% na conta de luz prometida pela presidente Dilma Rousseff para este ano. Entidades do setor elétrico e economistas consideram que o corte pode não ficar do tamanho estabelecido pelo Palácio do Pla­nalto porque o uso das térmicas - que geram energia mais cara e mais poluente - será repassado aos consumidores, reduzindo o impacto do corte.

"A redução de 20% é estrutu­ral, enquanto o gasto com as tér­micas é conjuntural Não pode­mos misturar uma coisa com a outra", disse Zimmermann. Pa­ra o Ministério de Minas e Ener­gia, as usinas que aceitaram reno­var seus contratos, seguindo as regras fixadas pelo Planalto, pas­sarão a cobrar um preço menor pela eletricidade gerada. Quan­do o nível dos reservatórios for restabelecido, o uso das térmi­cas será reduzido.

O impacto das térmicas para os consumidores é reconhecido pelo governo. Anteontem, o mi­nistro de Minas e Energia, Edi­son Lobão, admitiu que a conta será repassada. Pelos cálculos da Associação Brasileira de Distri­buidores de Energia Elétrica (Abradee), somente em outubro e novembro o gasto com geração de energia térmica foi de R$ 1,3 bilhão. Em dezembro, deve ter atingido mais R$ 800 milhões. Na média, é um impacto de 1% ao mês na tarifa.

Sem racionamento. Zimmermann fez questão de repetir que o País não corre o risco de passar por um novo racionamento de energia. Segundo ele, apesar de os reservatórios das hidrelétri­cas estarem em níveis baixos, o sistema hidrotérmico brasileiro está equilibrado. "Em 2001 o pro­blema era a falta de usinas, e hoje não temos esse problema. As usi­nas térmicas entram nos leilões de energia para serem usadas quando houver necessidade."

O presidente do grupo CPFL Energia, Wilson Ferreira Júnior, esteve em Brasília e seguiu o dis­curso de Zimmermann. "Não há razão para pânico com apagão neste momento", disse. 

A possibilidade de raciona­mento é pequena, segundo o go­verno, mas o fato de a hipótese, antes rechaçada no Planalto, ter entrado no cenário técnico de 2013 fez ligar o sinal de alerta. Mais que negar a alternativa, au­toridades garantiam, ontem, que o governo fará "tudo e mais um pouco" para evitar o cami­nho do racionamento.

Para uma fonte a par das dis­cussões estratégicas do governo no setor, uma coisa é admitir, in­ternamente, que há pequena pos­sibilidade de racionamento. Ou­tra coisa, no entanto, é recorrer ao expediente. (O Estado de S.Paulo)

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