O atraso na construção de linhas de transmissão contribui para o complicado cenário do setor elétrico do Brasil. A Hidrelétrica Santo Antônio, em Porto Velho (RO), por exemplo, encerrou 2012 com 9 das 27 turbinas funcionando, mas sem autorização para a entrada em operação da linha que vai levar a energia gerada na usina para o Sistema Interligado Nacional. Desse modo, o mercado deixa de receber 644 megawatts (MW) de eletricidade, o suficiente para abastecer cerca de 3 milhões de residências.
Pelas previsões da usina, outras 18 turbinas deverão entrar em operação comercial este ano. Quando estiver em pleno funcionamento, em 2015, a hidrelétrica, uma das duas construídas no Rio Madeira, já no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), terá capacidade para atender à demanda de energia de mais de 40 milhões de pessoas em todo o País.
Atualmente, 57% dos empreendimentos de transmissão estão com atraso no cronograma. São 238 linhas e subestações com problemas ambientais e outros questionamentos, conforme noticiado pelo Estado em 16 de dezembro.
A assessoria de Santo Antônio informou que até a entrega do Linhão do Madeira, que conectará definitivamente a usina ao sistema nacional, a energia está sendo transmitida por meio da Subestação Coletora de Porto Velho, que garante a conexão da usina ao Sistema Elétrico Regional, alcançando os Estados de Rondônia e Acre.
O Linhão do Madeira depende ainda da Licença de Operação, a ser concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que a promete para este semestre.
A linha de transmissão prevista para Santo Antonio e Jirau terá 2,4 mil quilômetros, e ligará Porto Velho a Araraquara, em São Paulo. De acordo com informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a Licença de Operação deveria ter sido dada até setembro de 2012. Quanto às estruturas, somente 73% estão concluídas. O início da operação comercial, previsto para abril de 2012, já está quase com um ano de atraso.
Licenças. A usina de Santo Antônio, assim como a de Jirau, localizada a cerca de 120 quilômetros de Porto Velho, acabou se transformando num símbolo da chegada das hidrelétricas à Amazônia. A licença ambiental para os dois empreendimentos causou a demissão da então ministra Marina Silva e de toda a sua equipe do Meio Ambiente, em 13 de maio de 2008. Ao sair, a ministra afirmou que perdia "a cabeça mas não perdia o juízo".
Indignado com a resistência à concessão das licenças, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusou os ambientalistas de criarem todo tipo de obstáculo às obras. "Jogaram o bagre no meu colo", reagiu Lula, ao comentar a justificativa dos técnicos do Ibama para a negativa das licenças, segundo as quais as usinas atrapalhariam os cardumes de bagre de procriarem, porque para a desova os peixes têm de subir o Rio Madeira, entrando afluentes acima, até o território boliviano.
Santo Antônio começou a operar em março de 2012, nove meses antes do cronograma original. A antecipação foi possível porque a usina tem um sistema de quatro casas de forças independentes que podem gerar energia já com a finalização da montagem e instalação da primeira unidade geradora, sem ter de esperar o término da obra. (O Estado de S.Paulo)
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