O primeiro leilão de energia após a Medida Provisória n.º 579–de renovação das concessões – foi morno. Dos 525 empreendimentos habilitados pela Empresa de Planejamento Energético(EPE), só12 foram contratados, num total de 574,3 megawatts (MW) de capacidade. Mas o motivo do baixo volume de contratação não pode ser entendido como uma retração do investidor. O que houve foi uma demanda menor das distribuidoras, que estão sobre contratadas. O volume de energia negociado somou R$ 6,04 bilhões e o preço médio ficou em R$ 91,25 o MWh, com deságio de 18,52%. "Tivemos usinas eólicas, termoelétricas a gás e usinas a biomassa disputando até o final do leilão", afirmou o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, destacando que esse fato gera uma tranquilidade ao governo federal de realizar novas licitações já no começo de 2013. Na disputa de ontem, foram contratadas duas hidrelétricas (292,4MW) e 10 centrais eólicas (281,9MW) – todos os negócios foram fechados com empresas privadas.
O preço médio de venda da fonte hidrelétrica foi de R$87,94 o MWh. Mas o destaque do leilão novamente foram as usinas eólicas, cujo preço de venda da energia surpreendeu mais uma vez: variou entre R$ 87,77 eR$ 89,20 o MWh. O recorde anterior era de R$ 99,54 o MWh do leilão de energia de reserva de 2009. A presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Melo, ficou preocupada com o resultado. "Qualquer expectativa pessimista não conseguiria prever uma demanda tão baixa." Demanda.Três fatores explicam essa procura menor que o previsto. Primeiro porque as concessionárias têm energia contratada acima do que está sendo consumido pelo mercado nacional.
O segundo ponto está associado ao baixo crescimento econômico–o que afeta as projeções de demanda das distribuidoras. Por último, tem o efeito da MP 579. Cada concessionária vai receber uma cota, mas elas ainda não sabem qual é, explica Elbia. "A oferta foi 28 vezes superior à demanda. Isso só poderia levar a um preço muito baixo."Na avaliação dela, é difícil imaginar que uma parque eólico a R$ 87,87 o MWh consiga remunerar os investimentos. O preço praticado no leilão de dezembro, de R$105 o MWh, corrigido pela inflação e com a nova taxa de câmbio, hoje representa R$ 121 o MWh, diz ela. "Isso nos leva a uma preocupação muito grande." Tolmasquim, no entanto, co-memorou. Segundo ele, o leilão mostrou que a MP 579 não afetou o apetite dos investidores. "Eles sabem que o investimento em energia nova é diferente da renovação das concessões."
O executivo destacou ainda que o leilão foi disputado tanto por empresas estatais quanto privadas, de capital nacional ou internacional. "O leilão foi disputado pelas empresas federais e as estaduais, como a Cemig e a Copel.O setor elétrico brasileiro é atrativo e existe oferta. AMP não afugentou os investidores.Posso falar tranquilamente isso."
Uso de térmicas vai pesar na conta de luz, diz associação
A Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) afirma que o uso de energia proveniente de termoelétricas vai pesar na conta de luz, diluindo em parte o objetivo do Planalto de cortar o custo da energia a partir do ano que vem. Pelas contas da entidade–que reúne 41 concessionárias de distribuição, responsáveis por 99% do mercado brasileiro –, o uso desse tipo de energia gerou um custo extra de R$ 650 milhões somente em novembro. Isso representa 43% do lucro mensal das empresas do setor, antes de descontar os impostos que precisam ser pagos. Essa despesa ocorre porque a energia gerada por térmicas – muitas vezes movidas a óleo combustível– é muito mais cara que a produzida por hidrelétricas. Este ano, por causada falta de chuva, os reservatórios atingiram níveis muito baixos, o que forçou o governo a acionar as térmicas. Segundo o presidente da Abradee, Nelson Fonseca Leite, a geração de energia por térmicas foi de 3 mil megawatts (MW), em agosto,para 13mil MW este mês.
Pelas contas da entidade, isso gera impacto mensal de 0,8 ponto porcentual na conta de luz. Se as usinas continuarem operando até o fim do primeiro trimestre do ano que vem, como estimado por especialistas, o impacto total sobre a conta paga pelos consumidores residenciais e industriais será de cerca de 4%. A meta do governo, ao renovar antecipadamente as concessões do setor, é reduzir em 20% o custo da energia a partir de 2013. Encargo.O uso de térmicas é bancado por todos os consumidores de energia. Uma espécie de imposto, cobrado na conta, garante recursos para quitar essa despesa. Existem 14 encargos desse tipo na conta de luz, de acordo com levantamento feito pelo Instituto Acende Brasil, uma consultoria do setor. Eles representam 19% da carga tributária do segmento. No ano passado, o governo arrecadou R$ 1,4 bilhão para pagar a despesa que teve com o uso de termoelétricas, de acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), órgão que funciona como xerife do setor. (Estado de S. Paulo)
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