quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Cúpula do PSDB articulou recusa de Minas e São Paulo ao pacote

BRASÍLIA A posição conjunta dos governos tucanos de Minas Gerais e São Paulo de não permitir a adesão integral das estatais destes estados às regras da MP 579 para a renovação de contratos de concessão de energia foi uma resposta política articulada com a cúpula do PSDB. Nos últimos dois dias, os governadores Antônio Anastasia, de Minas; e Geraldo Alckmin, de São Paulo, conversaram e acertaram a decisão de não aderir integralmente na área de geração de energia, só na área de transmissão. 

Agora, para evitar um impacto eleitoral negativo, os líderes tucanos terão de convencer a população de baixa renda que essa não é uma posição contra a redução das tarifas de energia elétrica. 

Anastasia decidiu só se manifestar hoje sobre a decisão justamente para evitar a leitura política da operação casada, que aconteceu um dia depois de o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso lançar a candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG) para disputar com a presidente Dilma Rousseff as eleições para presidência em 2014. Coube a Aécio assumir e linha de frente em defesa da decisão de Minas e São Paulo. 

Aécio diz que há intervenção - Depois de fazer um discurso na tribuna do Senado criticando a forma como o governo federal tenta reduzir a tarifa de energia elétrica, Aécio anunciou publicamente que a Cemig não assinaria o contrato de renovação da concessão com receita menor. Ele defendeu a desoneração da conta de luz com redução ou isenção de impostos. 

- Eu já posso dizer: a Cemig não vai assinar - disse Aécio, depois de consultar o relógio, por volta de 17h. - Foi imprudência do governo não dialogar com os estados. Às vésperas da eleição a presidente chamou cadeia (nacional) de rádio para anunciar que reduziria a tarifa de energia, sem dizer que estava fazendo uma intervenção no setor - criticou o senador. 

Dilma vira alvo - O mineiro afirmou que está havendo quebra de contrato e que, dessa forma, o setor privado não vai fazer investimentos. E ele cobrou ações de governos estaduais do PT, dizendo que, em Minas, ele baixou a conta de luz para os mais pobres, abrindo mão do recolhimento de ICMS. 

- Somos a favor da queda da tarifa. Fizemos em São Paulo, em Minas, ao contrário do Rio Grande do Sul, que é governador pelo PT - disse o senador. 

O governador Anastasia esteve em Brasília na véspera, para negociar com o governo e correligionários a posição da Cemig. Na segunda-feira, houve na capital um encontro de líderes tucanos com prefeitos eleitos, com a presença de Fernando Henrique, Aécio, o presidente do partido Sérgio Guerra (PSDB-PE) e o ex-senador Tasso Jereissatti. Uma das decisões foi justamente eleger a presidente Dilma como adversária, no embate político, deixando o ex-presidente Lula em segundo plano. 

- Prefiro não fazer essa conspiração, mas é estranho essa posição casada de Minas e São Paulo. Se não querem aderir, a Dilma licita e pronto - comentou o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT). 

O secretário de Energia do governo de São Paulo, José Aníbal (PSDB), negou que a decisão de São Paulo seja política e procurou justificar com argumentos técnicos. 

- Você não pode querer impor aos estados uma perda expressiva a favor de propósito com o qual concordamos, que é reduzir o preço da energia - disse Aníbal. - O governo sai desse episódio devendo um esclarecimento maior, porque o movimento todo foi feito com baixo nível de diálogo. Paciência, não deu certo. 

O governo chamou o secretário a Brasília ontem para uma última tentativa de dissuadi-lo sobre a decisão. A proposta para nós é insuficiente, está aquém daquilo que é a nossa avaliação de custos de operação e manutenção do conjunto Cesp. Com relação a ressarcimentos suplementares, isso só será feito ao longo de 2013, o que é incerto - disse Aníbal. O secretário acrescentou que o governo paulista teria que arcar com o custo da redução da tarifa da Cesp: 

- A assembleia geral da empresa já decidiu que não vai participar desse processo porque nós não podemos aceitar essa defasagem que caberia ao Tesouro de São Paulo assumir. É recurso que temos de tirar de nossas receitas destinadas às áreas de saúde, educação e saneamento. (O Globo)

Leia também:
Tarifa elétrica cairá menos
Redução de encargos pode garantir tarifa 20% menor
Analistas temem que receita menor leve à piora no serviço
Pinga-Fogo Setor Elétrico: Cemig, Cteep, CEEE e Eletrobras
Governo deve leiloar usina da Cesp já no 1º trimestre de 2013
Estados do PSDB ameaçam guerra judicial por elétricas
Conta de luz para as residências pode cair só 10% em vez de 16,2%