A renovação das concessões do setor elétrico causará perdas piores do que a Eletrobras esperava inicialmente. Maior empresa do grupo e braço da estatal no Nordeste, a Chesf terá que desembolsar R$ 1 bilhão na compra de energia no mercado livre para recompor contratos de fornecimento para 14 grandes indústrias que vencem em 2015. A operação é necessária porque parte da energia vendida a esses clientes está presa a concessões que serão renovadas antecipadamente e será obrigatoriamente destinada ao mercado regulado.
De acordo com nota técnica elaborada pela Chesf, a empresa possui contratos com indústrias (principalmente petroquímicas e siderúrgicas) num total de 853 MW médios, que foram firmados a R$ 120 por MWh entre 2010 e 2015. A parte descoberta desses contratos será comprada a R$ 134 por MWh.
Segundo o presidente da Chesf, João Bosco de Almeida, apesar do impacto negativo, a empresa não terá prejuízo. "Isso vai diminuir o nosso lucro, mas ainda é um fluxo de caixa positivo", disse o executivo, ressaltando que a receita com esses contratos é de R$ 2 bilhões. A Chesf está exposta em 604 MW médios para 2013, 211 MW médios para 2014 e 265 MW médios para 2015.
A aquisição de um bloco de energia significativo já no próximo ano pode causar um impacto nos negócios no mercado livre. Segundo o presidente da comercializadora Comerc, Cristopher Vlavianos, estima-se que as sobras contratuais no mercado livre sejam de 600 MW médios a 900 MW médios para 2013.
"A Chesf terá que fazer um leilão para comprar essa energia. É um volume muito representativo", disse Vlavianos, lembrando que o cenário no mercado livre hoje não é favorável, devido ao nível baixo dos reservatórios. Já o presidente da estatal não quis comentar a sua estratégia de contratação para "não haver nenhuma influência no mercado livre".
Considerada a mais rebelde das subsidiárias da Eletrobras, a Chesf lastreou parte do contrato firmado com as indústrias com energia descontratada no mercado regulado a partir de 2013. A medida contrariou os planos da holding, que queria manter esse bloco de energia no ambiente regulado, para assegurar preços mais baixos para os clientes residenciais das distribuidoras.
Almeida, porém, negou que tenha recebido orientação da Eletrobras para não vender a energia no mercado livre. "Temos uma lei dando cobertura a esses contratos [com indústrias], de 2010 até 2015", ressaltou o executivo, se referindo à Lei 11.943, de 23 de maio de 2009. "São grandes clientes da Chesf há mais de 40 anos", completou.
Demonstrando tranquilidade, o executivo disse que o impacto negativo de R$ 1 bilhão que a companhia terá no mercado livre é "mais uma questão no bojo da Medida Provisória [579, da renovação das concessões]". A empresa esperava ter uma indenização de R$ 14 bilhões pelos ativos ainda não amortizados, mas receberá apenas R$ 6,7 bilhões.
O diretor financeiro e de relações com investidores da Eletrobras, Armando Casado, afirmou ontem que a estatal usará as reservas de lucro e de capital para cobrir o prejuízo acumulado que terá com o ajuste contábil dos ativos que terão as concessões renovadas. Isso quer dizer que, se toda a reserva de lucro for consumida, a companhia não terá como pagar dividendos. Em teleconferência sobre os resultados do terceiro trimestre, o executivo também afirmou que a estatal terá Ebitda de praticamente zero em 2013. (Valor Econômico)
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