A Iberdrola fechou acordo com o fundo de pensão Previ e o Banco do Brasil, seus sócios na Neoenergia, afirmou Ignácio Galán, presidente da companhia de energia espanhola, ao Valor. O acerto, destacou o executivo, garante à Iberdrola as decisões de gestão da distribuidora brasileira, da qual detém 39% do capital social.
Segundo Galan, "as decisões serão tomadas pelo acionista que tem o controle do bloco de acionistas", Ou seja, mais de 50% das ações vinculadas ao bloco de controle. Conforme o acordo de acionistas, a Iberdrola tem 60% desse tipo de ação da Neoenergia. A Previ e ao Banco do Brasil caberá o papel nas decisões estratégicas da Neoenegia, que só poderão ser tomadas pela maioria do capital total da empresa. A Previ detém 49% e o Banco do Brasil, 12%, do capital total. Assim, Iberdrola assumirá completamente a gestão executiva da distribuidora.
"Basta uma linha" e esse problema legal estará resolvido, afirmou Galán. A questão é que a legislação mudou na Espanha a partir de 2014 e para consolidar os resultados da Neoenergia em seu balanço a Iberdrola precisa provar que tem a gestão da distribuidora, já que ela não é a controladora do seu capital social.
O executivo disse que o Brasil nos próximos anos será o segundo maior investimento da Iberdrola, à frente dos Estados Unidos, só perdendo para a Inglaterra. Afirmou que serão mais de US$ 10 bilhões em alguns anos. "O mais importante é que se chegou a esse acordo com Previ".
Em julho, o presidente da Iberdrola esteve no Brasil para uma nova rodada de negociações com os sócios brasileiros, liderados pela Previ (fundo dos funcionários do BB). Após quase dois anos de tentativas de assumir o controle da elétrica para consolidar o ativo no seu balanço global, a Iberdrola optou pela busca de uma solução mais simples - contabilizar as receitas e despesas da Neoenergia no seu balanço global, atendendo exigências das novas normas, o IFRS - sem alterar a estrutura societária da Neoenergia.
Galán apontou ao Valor as mudanças de planos do grupo, buscando a retomada das negociações, paralisadas desde o fim de 2011. "Para a consolidação não precisamos dos 51% [na Neoenergia], precisamos de termos legais que nos garantam não ser preciso mudar a estrutura societária", afirmou na época. Ele sinalizou que a mudança poderia vir através de acertos no acordo de acionistas. "Temos um acordo de acionistas e poderemos ver quais pontos [deste acordo, de 2005] podem ser melhorados, modificados ou transformados".
Essa mudança de postura foi apoiada pela Previ. O diretor de participação do fundo, Marco Geovanne, admitiu que os sócios brasileiros estavam abertos à negociação para chegar a uma solução na questão do IFRS sem mudar o perfil acionário da empresa. O aditivo ao acordo de acionistas garante que, mesmo sem deter a maioria das ações, a Iberdrola se torne operadora da Neoenergia, consolidado o ativo em seu balanço. Ao mesmo tempo, atende o governo brasileiro, ao qual não agrada a ideia de ver a espanhola ter o controle da empresa com pouco mais de 30% do capital total.
O novo rumo das negociações foi ao encontro dos desejos do Planalto. No fim do ano passado, quando os sócios quase chegaram a um acerto de venda de ações de Previ e BB para a Iberdrola, ficando com uma fatia de quase 60%, o governo travou o negócio. A presidente Dilma se manifestou contrária a ter um controlador estrangeiro na Neoenergia.
A posição do Planalto levou a Iberdrola a reagir de maneira abrupta, colocando sua participação à venda. A chinesa State Grid chegou até a fazer uma oferta pelos 39% da espanhol, pegando de surpresa os sócios Previ e BB. Ambos interpretaram a atitude da Iberdrola como uma retaliação à negativa de vender o controle da Neoenergia. Isso voltou a irritar autoridades de Brasília.
Galán admitiu em julho ao Valor que abriu um "data room" da Neoenergia para empresas interessadas em suas ações, seguindo sugestão de bancos de investimento preocupados com a paralisação das conversas com seus sócios. E relatou que chegou a consultar a Previ e o BB sobre o "data room". E admitiu que "os chineses fizeram muitas propostas informais. "Mas não fechamos nenhuma proposta formal com eles". A retomada das negociações foi recheada com promessas do principal executivo da Iberdrola em fazer grandes investimentos na empresa brasileira. A Previ, procurada para detalhar o acordo anunciado por Galán, não se manifestou.
A Neoenergia controla no país as distribuidoras Coelba (Bahia), Celpe (Pernambuco) e Cosern (Rio Grande do Norte), além de ativos de geração de energia, como a hidrelétrica de Teles Pires (51%), em construção, e do projeto da usina de Belo Monte (10%). O Brasil responde por 20% do resultado operacional (Ebitda) da Iberdrola (€ 7,65 bilhões em 2011). (Valor Econômico)
Leia também: