A conta de luz dos consumidores de energia atendidos pelas 63 distribuidoras do país -como Eletropaulo e Cemig- vai ficar mais cara nos próximos anos. Além dos habituais reajustes anuais, há outro fator de pressão sobre os preços: a fuga de grandes consumidores para o chamado mercado livre de energia.
Criado em 1995, esse mercado é um ambiente de contratação fora das distribuidoras, cujo acesso para negociação só é permitido a consumidores com demanda acima de 500 KW -carga suficiente para abastecer 800 residências.
De acordo com a Abradee (Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica), em 18 meses, o número de consumidores livres no Brasil dobrou para 670 agentes, o que inclui clientes como shoppings e indústrias.
Jamais a fuga de consumidores do mercado comum de energia alcançara tamanha velocidade. Mas qual o problema dessa debandada?
O mais imediato é o furo no planejamento de compra de energia pelas distribuidoras.
Elas compraram energia para um cliente que foi embora. Essa fuga tem gerado um problema: a sobrecontratação das concessionárias.
SOBRA - A Abradee diz que algumas distribuidoras têm mais de 7% de sobra de energia entre 2013 e 2015. Há casos de sobras superiores a 20%. Por lei, as empresas só podem ter 3% de excedente. É o máximo que os consumidores comuns pagam.
Para reduzir o excesso de energia "encomendada", as distribuidoras devolvem contratos de velhas usinas, que têm preço menor -os contratos mais novos, mais caros, não podem ser desfeitos. É aí que o efeito da fuga de grandes consumidores para o mercado livre se materializa para o consumidor comum.
Com a saída de energia barata do mix tarifário, sobram os contratos mais caros. O resultado é que o custo de aquisição dessa energia fica maior. A compra de energia pela concessionária corresponde à metade do valor da conta de luz de um consumidor residencial.
O tamanho do aumento não será uniforme, mas a questão já entrou no radar do governo e pode anular o esforço que a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) fez nos últimos anos para tentar frear a alta da tarifa de energia, com a redução do ganho das distribuidoras.
"Há tendência de elevação [da tarifa de energia], na medida em que são devolvidos contratos com preços mais baixos", diz Nelson Fonseca, presidente da Abradee.
CASOS CONCRETOS - O sinal amarelo surgiu com o recente reajuste tarifário de quatro distribuidoras em abril: Celpe (PE), Coelba (BA), Consern (RN) e Energisa (SE).
O custo de compra de energia delas foi maior de 2011 para 2012. Elas gastaram entre 14,63% e 21,80% mais para adquirir o mesmo volume. O efeito desse sobrecusto resultou em aumento entre 7,71% e 10,73% na tarifa final.
A saída dos grandes clientes pesou para o consumidor não só porque terá de pagar mais para ter a mesma energia, mas também por ter de dividir, agora com menos clientes, o custo dos subsídios embutidos nas tarifas. (Folha de S. Paulo)
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