A chinesa State Grid vai praticamente dobrar a sua carteira de linhas de transmissão em operação no Brasil, para cerca de 6 mil quilômetros, até o fim do ano, com a compra de sete empreendimentos (num total de 2,8 mil quilômetros) do grupo espanhol Actividades de Construccion y Servicios (ACS) no país.
Considerando ainda o sistema de transmissão do complexo hidrelétrico de Teles Pires (MT), de 1,6 mil quilômetros, que a empresa chinesa vai construir com a paranaense Copel, o portfólio da estatal asiática totalizará 7,6 mil quilômetros, ultrapassando a gaúcha Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), que possui pouco mais de 6 mil quilômetros de linhas.
O negócio fechado esta semana, em que a State Grid pagará R$ 1,05 bilhão e assumirá R$ 814 milhões de dívida líquida, envolve sete linhas localizadas em oito Estados brasileiros. Os empreendimentos pertencem à Cobra, Cymi e CME, empresas controladas pela ACS. A maioria dos projetos já está em operação. A parcela restante iniciará a operação comercial até o fim de 2012. A transação, realizada pelas duas holdings, na China e na Espanha, está sujeita ainda à aprovação de entidades regulatórias.
Com a negociação, a State Grid também ultrapassaria outro importante "player" em expansão no setor, a Transmissora Aliança de Energia Elétrica (Taesa). A empresa, porém, ampliou seu portfólio de 6,2 mil quilômetros para 9,3 mil quilômetros ao adquirir, em maio, 3,1 mil quilômetros de linhas da Cemig, uma de suas principais acionistas.
De acordo com levantamento feito em dezembro pela Associação Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de Energia Elétrica (Abrate), as líderes do setor são Furnas, com 19,2 mil quilômetros; a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP), 18,8 mil quilômetros; e a Chesf, com 18,6 mil quilômetros.
Na segunda-feira, a CTEEP assinou a compra da empresa de transmissão da EDP. Único ativo do tipo do grupo português no Brasil até então, a Evrecy Participações possui uma linha de 154 km, em 230 quilovolts (kV).
"Quando entrou no mercado brasileiro, a State Grid comprou sete linhas. Agora comprou outras sete. Ela está completando a mudança de posição dos espanhóis para os chineses", afirmou o diretor-executivo da Abrate, César Pinto.
Para o coordenador do Grupo de Estudo do Setor de Energia Elétrica (Gesel), Nivalde de Castro, a operação entre a State Grid e o ACS pode ser considerada normal. Isso porque as subsidiárias do grupo espanhol tem foco de atuação na área de construção. Assim, quando concluem as obras, essas empresas vendem os empreendimentos.
"De certa maneira, esse é um modelo que as empresas espanholas desenvolvem para viabilizar seu "core business". Independentemente de crise, depois que constroem a linha, elas passam adiante", explicou Castro. "Por conta da situação econômica difícil na Espanha, esse movimento tende a acelerar. E, no Brasil, a grande compradora no setor hoje é a State Grid", completou.
Procurada, a State Grid Brazil Holding (SGBH) não informou o valor do investimento nas linhas, nem a receita anual dos empreendimentos. A companhia vai investir R$ 2,7 bilhões em parceria com a Copel para implantar as linhas de Teles Pires.
A chinesa entrou no Brasil em 2010, investindo R$ 3,1 bilhões na adquisição de sete empresas de transmissão da Plena Transmissoras, que era controlada pelas espanholas Elecnor, Isolux, Cobra e Abengoa. (valor Econômico)
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* Artigo: A repotenciação das hidrelétricas