A compra de participação na Energias de Portugal (EDP) pelo grupo chinês Três Gargantas (Three Gorges), no final do ano passado, pode significar mais investimentos da companhia em projetos de energia renovável no Brasil, no curto prazo. Aquisições e aportes mais agressivos no segmento de distribuição, no qual a EDP atua no Brasil através da Bandeirantes e da Escelsa, porém, se acontecerem, tende a vir no médio e no longo prazos. A avaliação é de analistas e consultores que acompanham o setor no país.
O fôlego financeiro dos chineses, que estão capitalizados e têm acesso a diversas fontes de financiamento em condições vantajosas, é visto como um dos principais valores agregados à EDP com a aquisição. A limitada capacidade de levantar recursos internacionalmente era vista como entrave a aportes maiores da companhia em negócios no Brasil.
Segundo Marcos Severine, analista do mercado de energia da Itaú BBA Corretora, com um endividamento de 4,5 vezes o potencial de geração de caixa (Ebitda) lá fora, a EDP não podia se comprometer com grandes projetos no país, por aumentarem indiretamente o endividamento. Ainda que as operações no Brasil fossem boas geradoras estáveis de receita. “No novo cenário, o plano de investimentos poderá ser mais robusto, principalmente na área de energias renováveis”, diz o analista.
É uma tendência que, segundo ele, já foi esboçada no apagar das luzes do ano passado, quando a EDP Renováveis comercializou 57,2 MW médios de energia nova no leilão A-5, em 20 de dezembro, por 20 anos. O montante será produzido em quatro parques eólicos, com capacidade de geração de 120 MW, que serão construídos no Rio Grande do Norte. Com início do fornecimento programado para janeiro de 2016, os projetos vão consumir investimentos são estimados em R$ 350 milhões a R$ 400 milhões.
Mais investimentos em energias renováveis estariam em linha com a estratégia internacional da EDP, que já é uma das maiores do segmento no mundo, e fariam sentido pelo percentual retorno de projetos do gênero no Brasil. De acordo com Severine, investimentos em energia renovável e gás têm apresentado margens bem superiores aos feitos por empresas das áreas de distribuição e transmissão de energia.
Por fim, os aportes em projetos de geração de energia limpa seguem a lógica do que os chineses vêm fazendo – o país é o que mais investe em energia renováveis no mundo – e atendem a vocação do Brasil em termos de potencial de geração, argumenta o analista da Itaú BBA Corretora.
Distribuição - Na área de distribuição, Severine e outros especialistas, como Rafael Herzberg, consultor e diretor da Interact, afirmam que companhias como Cemig e CPFL têm maior potencial de consolidação que a EDP. E que investimentos em geração têm regulamentação bem menos complicada do que áreas com tarifas controladas, como a de distribuição.
Mas, ainda que eventualmente a empresa prefira manter-se à margem da briga por este segmento de mercado no país, em um momento de crescente pressão por consolidação, Rafael Andreata, analista de investimentos da Planner Corretora, avalia que a presença dos chineses no corpo acionário tende a gerar maior competitividade no mercado. “Eles são muito capitalizados. Pode acontecer um acirramento da disputa em leilões tanto de distribuição quanto de geração”, diz.
Para ele, os chineses “com certeza” vão usar a EDP como veículo para investir no Brasil. Mas até que possam exercer influência efetiva sobre as decisões de investimento no país deve demorar um pouco. Não antes do segundo semestre deste ano ou no início de 2013. “É só a partir daí que a presença dos chineses deverá ser sentida nas decisões administrativas tomadas pela EDP no Brasil e lá fora”, diz. (IG)
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