As sucessivas crises econômicas, que desde 2008 levaram os chineses a aproveitar as liquidações de empresas mundo afora, começam a ter reflexo mais robusto na composição acionária das elétricas brasileiras. Os chineses hoje já são sócios indiretos de três grandes distribuidoras de energia no Brasil (Eletropaulo, Bandeirante e Escelsa), que juntas detém 16% do mercado brasileiro de distribuição, e das geradoras da AES Tietê e da EDP, com capacidade de gerar, juntas, mais de quatro mil megawatts (MW) de energia. Além disso, são donos da concessão de mais de seis mil quilômetros de linhas de transmissão e dez subestações.
A investida dos chineses no mercado brasileiro tem sido acompanhada com atenção pelo governo brasileiro. Fontes do alto escalão dizem que um dos mecanismos usados é tentar manter sócios estratégicos em negócios nos quais os chineses tenham participação, usando o BNDESPar, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (Previ) ou mesmo a Eletrobras. Mas essa é uma estratégia limitada. Em transmissão, por exemplo, o governo chinês, por meio da State Grid, é dono de uma empresa no Brasil e tem pretensões de disputar leilões importantes de linhas de transmissão, como a que vai ligar a usina de Belo Monte ao Sudeste do país.
O setor de transmissão é, por enquanto, o que mais tem recebido a atenção do governo, já que é a única área do setor elétrico em que os chineses entraram diretamente no país. Eles desembolsaram R$ 3,5 bilhões para comprar as linhas de transmissão que pertenciam a um grupo de empresas espanholas. O governo chegou a acelerar o pagamento das dívidas que a Plena Transmissoras tinha com o BNDES, elevando o custo da compra em R$ 1 bilhão, mas mesmo assim os chineses bancaram a entrada no país. A alta capitalização dos chineses é o que mais assusta. "Eles colocaram oito bilhões de euros no negócio da EDP", disse importante fonte do governo. "Nós não temos esse dinheiro para competir".
A referência é feita em função da disputa recente em que a Eletrobras tentou comprar 21,35% do capital da EDP que estava nas mãos do governo português e perdeu para os chineses. A estatal brasileira fez uma oferta de € 2,5 bilhões, muito próxima dos € 2,7 bilhões oferecidos pelos chineses. O problema é que a China ainda se comprometeu a dar liquidez à companhia e a instalar uma série de fábricas em Portugal, que foi uma proposta imbatível em relação à feita pela estatal brasileira.
A companhia portuguesa tem nos ativos brasileiros um dos principais geradores de caixa. As distribuidoras Bandeirante Energia (SP) e Escelsa (ES), junto com as geradoras do grupo no Brasil, respondem por 20% da capacidade de geração de caixa medida pelo Ebtida (sigla em inglês do lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) da empresa no mundo. O capital é bastante pulverizado e, no curto prazo, os chineses não podem se associar a outros acionistas para deter o controle de fato. Poderão fazê-lo em quatro anos. "Os chineses não têm pressa", diz uma fonte ligada à Eletrobras. "Mas daqui a pouco eles podem ser acionistas controladores de importantes distribuidoras no Brasil".
Em distribuição, único negócio em que o governo brasileiro ainda se sente blindado, é o caso da AES. Os fundos soberanos chineses são donos de 15% da companhia nos Estados Unidos, participação adquirida em 2009. Mas no Brasil, onde a AES é dona da Eletropaulo e da Tietê, a empresa é sócia do BNDESPar. De qualquer forma, a entrada dos chineses já atrapalhou os negócios pretendidos pelo governo brasileiro. A ideia era o BNDES se desfazer de sua participação na Eletropaulo em favor da CPFL Energia, que tem a Camargo Corrêa e a Previ como sócias. Mas desde que os chineses capitalizaram a companhia americana, o negócio travou. Além disso, a AES tem reafirmado seu interesse em exercer o direito de preferência caso o BNDES saia da companhia. (Valor Econômico)
* Eficiência energética: economia de 32,2 mil GWh até 2021
A investida dos chineses no mercado brasileiro tem sido acompanhada com atenção pelo governo brasileiro. Fontes do alto escalão dizem que um dos mecanismos usados é tentar manter sócios estratégicos em negócios nos quais os chineses tenham participação, usando o BNDESPar, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (Previ) ou mesmo a Eletrobras. Mas essa é uma estratégia limitada. Em transmissão, por exemplo, o governo chinês, por meio da State Grid, é dono de uma empresa no Brasil e tem pretensões de disputar leilões importantes de linhas de transmissão, como a que vai ligar a usina de Belo Monte ao Sudeste do país.
O setor de transmissão é, por enquanto, o que mais tem recebido a atenção do governo, já que é a única área do setor elétrico em que os chineses entraram diretamente no país. Eles desembolsaram R$ 3,5 bilhões para comprar as linhas de transmissão que pertenciam a um grupo de empresas espanholas. O governo chegou a acelerar o pagamento das dívidas que a Plena Transmissoras tinha com o BNDES, elevando o custo da compra em R$ 1 bilhão, mas mesmo assim os chineses bancaram a entrada no país. A alta capitalização dos chineses é o que mais assusta. "Eles colocaram oito bilhões de euros no negócio da EDP", disse importante fonte do governo. "Nós não temos esse dinheiro para competir".
A referência é feita em função da disputa recente em que a Eletrobras tentou comprar 21,35% do capital da EDP que estava nas mãos do governo português e perdeu para os chineses. A estatal brasileira fez uma oferta de € 2,5 bilhões, muito próxima dos € 2,7 bilhões oferecidos pelos chineses. O problema é que a China ainda se comprometeu a dar liquidez à companhia e a instalar uma série de fábricas em Portugal, que foi uma proposta imbatível em relação à feita pela estatal brasileira.
A companhia portuguesa tem nos ativos brasileiros um dos principais geradores de caixa. As distribuidoras Bandeirante Energia (SP) e Escelsa (ES), junto com as geradoras do grupo no Brasil, respondem por 20% da capacidade de geração de caixa medida pelo Ebtida (sigla em inglês do lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) da empresa no mundo. O capital é bastante pulverizado e, no curto prazo, os chineses não podem se associar a outros acionistas para deter o controle de fato. Poderão fazê-lo em quatro anos. "Os chineses não têm pressa", diz uma fonte ligada à Eletrobras. "Mas daqui a pouco eles podem ser acionistas controladores de importantes distribuidoras no Brasil".
Em distribuição, único negócio em que o governo brasileiro ainda se sente blindado, é o caso da AES. Os fundos soberanos chineses são donos de 15% da companhia nos Estados Unidos, participação adquirida em 2009. Mas no Brasil, onde a AES é dona da Eletropaulo e da Tietê, a empresa é sócia do BNDESPar. De qualquer forma, a entrada dos chineses já atrapalhou os negócios pretendidos pelo governo brasileiro. A ideia era o BNDES se desfazer de sua participação na Eletropaulo em favor da CPFL Energia, que tem a Camargo Corrêa e a Previ como sócias. Mas desde que os chineses capitalizaram a companhia americana, o negócio travou. Além disso, a AES tem reafirmado seu interesse em exercer o direito de preferência caso o BNDES saia da companhia. (Valor Econômico)
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