segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Estatais brasileiras de energia miram Portugal, de olho no Brasil

Eletrobras e Cemig estão na reta final de um processo que poderá abrir para uma delas as portas do mercado português de energia elétrica. Até o final do ano, o governo de Portugal pretende concluir a venda de participação de 21,35% que detém na estatal Energias de Portugal (EDP). Estão no páreo ainda um concorrente chinês e outro alemão. O alvo final das brasileiras, porém, pode ser o próprio mercado brasileiro, avaliam analistas e especialistas no setor de energia. A estatal lusa controla ativos que somam R$ 12,8 bilhões no país.


Entre as empresas mais vistosas no portfólio da EDP no Brasil estão as distribuidoras de energia Bandeirantes e Escelsa. A primeira atende 1,5 milhão de clientes no estado de São Paulo, 1,4 milhão deles residenciais. A outra distribui energia a 1,27 milhão, no Espírito Santo. “O Brasil começa a viver um período de consolidação do setor energético”, diz Rafael Andreata, analista de investimentos da Planner Corretora. “Em um segundo momento, poderiam negociar os ativos no Brasil em troca da participação que detém na matriz”.

O negócio faria sentido principalmente para a mineira Cemig, diz o analista, pela possibilidade de ganhos operacionais gerados pela proximidade geográfica entre os três estados. A estatal controlada pelo governo mineiro também já divulgou que tem planos de ampliar sua atuação na área de energias renováveis. Um objetivo que seria facilitado com uma eventual incorporação da experiência na área e de parques eólicos que a EDP tem no Sul do país.

Em termos de rentabilidade, diz Andreata, o desembarque em mercados maduros como Portugal, com perspectivas de expansão lenta dos volumes de consumo nos próximos anos e margens de lucro mais apertadas que no Brasil, faz pouco sentido. “Para nenhuma das duas seria necessário fazer esse movimento”, afirma o analista da Planner.

Frederico Araújo Turolla, professor do mestrado em gestão internacional da ESPM-SP, concorda que, do ponto de vista financeiro, a ida ao mercado europeu pode soar como mau negócio. Mas pondera que as margens de retorno sobre investimentos concedidas pela agência reguladora no Brasil, a Aneel, já não são as mesmas de uma décadas atrás. O conhecimento operacional obtido em mercados maduros, no caso, poderia facilitar uma adaptação ao novo cenário e, eventualmente, outras investidas no mercado externo.

Na avaliação de Francisco Anuatti Neto, professor da FEA-USP em Ribeirão Preto e especialista em infraestrutura, há ainda um componente simbólico que atende principalmente os anseios da Eletrobrás no longo prazo. Segundo ele, a companhia alimenta há cerca de quatro anos a pretensão de se tornar “a Petrobras" do setor elétrico, o que incluiria a internacionalização.

A aquisição também significaria para a Eletrobras a oportunidade de galgar um novo patamar de profissionalização, tomando contato com outras culturas empresariais e fugindo das amarras da lei de licitações brasileira. “A companhia é hoje uma holding com empresas fortes e isoladas. Ninguém ouve falar da Petrobras de São Paulo, da Petrobras do Rio”, compara o acadêmico. A Petrobras, continua, é controlada por uma legislação específica.

O assunto é tratado em sigilo absoluto na Eletrobras, que informou através de sua assessoria de imprensa que está impedida de falar por um acordo de confidencialidade. Em comunicado enviado ao mercado, no dia 24 de outubro, a Cemig limita-se a dizer que “a EDP opera ativos estrategicamente muito relevantes”, que justificariam a “parceria” com os portugueses. (IG)

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