sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Distribuidoras culpam clima por piora no serviço

A intensidade das mudanças climáticas e a expansão da malha em quase 50%, nos últimos anos são apontadas pelas distribuidoras de energia como fatores responsáveis pela deterioração dos indicadores de qualidade do serviço. O programa Luz para Todos fez a rede básica de distribuição aumentar de 2 milhões para 3 milhões de quilômetros. Trabalhando com uma densidade menor, já que esse crescimento ocorreu sobretudo em áreas rurais, a rede tende a ficar mais exposta a sobressaltos.

"A relação de megawatt-hora por quilômetro de rede diminuiu, e ela também ficou mais vulnerável a chuvas e trovoadas", diz o presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Nelson Fonseca Leite. "As redes elétricas do passado foram construídas para suportar rajadas de vento de 80 km/h ou 90 km/h. Os ventos que causaram blecautes em São Paulo recentemente alcançaram 160 km/h", compara.

De acordo com Osmar Pinto Jr., coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), as mudanças climáticas no município de São Paulo demonstram os novos desafios que a rede de distribuição precisa encarar. Nos últimos 50 anos, a temperatura média na cidade aumentou cerca de 2º C, quatro vezes mais do que no Brasil como um todo. "Chuvas acima de 100 milímetros por dia, que eram extremamente raras, tornaram-se eventos comuns."

Hoje, o ano tem pelo menos cem dias com tempestades nessa intensidade. Há meio século, eram 60 dias, no máximo. Nos últimos 13 anos, houve três tempestades em São Paulo com mais de 1.500 raios em um mesmo dia: uma ocorreu em 2009 e outras duas em 2011.

A outra face dos temporais são estiagens também rigorosas, que favorecem as queimadas. O próprio Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) atribuiu o aumento das perturbações com corte de carga superior a 1.000 MW - foram seis em 2010, o dobro do registrado nos três anos anteriores - à "ocorrência de perdas triplas na interligação Norte-Sudeste, motivadas por alta incidência de queimadas". Neste ano, o número de perturbações com cortes acima de 1.000 MW voltou a cair, para duas ocorrências até setembro.

Nelson Fonseca Leite observa que as distribuidoras, por estarem na última ponta da relação com os consumidores, acabam respondendo também pelos problemas de transmissão. "Como é a distribuidora que atende aos consumidores, é ela quem paga a conta, embora muitas vezes não esteja na origem do problema." (Valor Econômico)


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