Depois do fracasso no sonho de criar uma superelétrica unindo Neoenergia e CPFL, a Previ optou por sair do controle de uma delas, transferindo o comando da Neoenergia para o grupo espanhol Iberdrola.
Outro motivo que levou o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil a abrir mão do controle da elétrica que tem operações no Nordeste foi a necessidade de se enquadrar no limite de investimentos de renda variável fixado pela Previc. Agora, tudo indica que a fundação vai voltar seus esforços no setor elétrico para reforçar o caixa da CPFL, o grande ativo que lhe resta. A Previ continuará com uma participação de pelo menos 20% na Neoenergia.
A engenharia da operação, que está em fase de negociação, pode envolver também uma troca de ativos entre Previ e Iberdrola, uma vez que o grupo espanhol poderia não dispor de capital suficiente para arcar com um desembolso que poderia chegar a quase R$ 6 bilhões, com a compra de uma participação entre 21% e 26% dos 29% que a Previ estaria vendendo da Neoenergia (cujo valor total é avaliado entre R$ 21 bilhões e R$ 23 bilhões). Um trunfo da Iberdrola na operação seria oferecer ao fundo de pensão a distribuidora paulista Elektro, avaliada em R$ 3,8 bilhões pelo mercado. Se a troca de ativos se concretizar, o desembolso da companhia espanhola cai substancialmente, ficando em torno de R$ 2 bilhões.
Para compor essa engenharia toda, uma vez que o BBI está saindo da Neoenergia, uma alternativa seria a participação do BNDES no negócio, adquirindo uma fatia entre 15% e 20%, sendo 12% do BBI e os restantes 3% da Previ. No entanto, segundo apurou o Valor, as negociações com o banco de fomento ainda estão numa fase muito embrionária e vão depender de muita conversa. Procurado, o banco não quis comentar o assunto.
Se concretizado esse cenário, a Iberdrola passará a ter entre 60% e 65% de uma empresa que tem três distribuidoras - Coelba, na Bahia, Celpe, em Pernambuco, e Cosern, no Rio Grande do Norte -, além de várias participações em pequenas e médias hidrelétricas e 10% na megausina de Belo Monte. Isso resolve o dilema que vive hoje a empresa espanhola, que busca reduzir seu endividamento desde a crise de 2008. A situação financeira da Iberdrola não é nada confortável. A relação da sua dívida líquida com o Ebitda é de 4,5 vezes no resultado de 2010, bem alta. Isso poderia aumentar se a empresa tivesse que pagar em dinheiro pelas ações ou do BBI ou da Previ.
Se o negócio for fechado e aprovado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) antes do fim do ano, a Iberdrola só tem a ganhar, pois a Neoenergia, no balanço de 2010, alcançou uma relação entre dívida líquida e Ebitda de 0,8%, uma situação bastante confortável. Com isso, a relação dívida líquida e Ebitda da Iberdrola cairia de forma significativa, na avaliação do analista Marcos Severine, do Itaú BBA. "Eventualmente, a empresa até poderia entrar com dinheiro, mas o endividamento já é alto e a companhia precisaria de um empréstimo-ponte para fechar a operação". Severine não afasta a hipótese de a Iberdrola, após adquirir o controle da Neoenergia, abrir o capital da empresa na BM&FBovespa. "Ela pode comprar tudo e depois se desalavancar emitindo ações da nova companhia no mercado de capitais."
O analista vê como caminho natural o aumento da participação da Iberdrola na Neoenergia. "O mercado já vinha comentando esse descruzamento há algum tempo. A intenção da Previ de centralizar a participação em um veículo único seria a CPFL. Houve conflitos de interesse importantes entre os dois ativos da Previ, CPFL e Neoenergia, como a entrada das duas em consórcios diferentes para disputar Belo Monte". Severine não descarta que a Previ aceite a Elektro como "moeda de troca" nessa transação. "A Elektro é um ativo excelente e faz muito sentido ser consolidado na CPFL. Creio que a Previ aportaria a Elektro na CPFL."
Consultores do setor elétrico ouvidos pelo Valor enxergam a opção da Previ como "uma escolha de Sofia", já que o fundo de pensão não conseguiu consolidar seus dois maiores ativos: CPFL e Neoenergia. Também citam a necessidade de a Previ ter que se enquadrar em renda variável como um agravante dessa escolha. No resultado de 2010, 64,53% das aplicações da Previ, no Plano 1 de Benefícios, eram em renda variável. Apesar de a Previc tolerar até 70%, a própria fundação se impôs um limite máximo neste tipo de investimento de 60,2% a 64,4%. Para os interlocutores, por estar impedida de colocar os ganhos desse negócio em renda variável, a Previ poderá decidir usar parte deles para capitalizar a CPFL, desalavancando a empresa. "A questão de fundo dessa operação é de estratégia política", diagnosticou uma fonte que não quis se identificar. A expectativa do mercado é que a operação seja fechada antes do fim do ano. (Valor Econômico)
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