quinta-feira, 29 de março de 2012

Custo de ampliar usinas é menor, diz setor

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) pretende fechar, até o fim do primeiro semestre, as regras para incentivar os investimentos na ampliação da capacidade de usinas hidrelétricas existentes. O assunto é recebido com uma mistura de entusiasmo e preocupação no setor elétrico.

A Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica (Abrage), que encaminhou à agência uma manifestação de interesse de nove associadas em expandir a potência instalada de suas usinas em 5.203 megawatts (MW), vê uma solução para atender à demanda nos horários de pico com investimentos muito menores aos que seriam necessários para a construção de hidrelétricas.

O presidente da Abrage, Flávio Neiva, destaca que o custo da ampliação de capacidade será inferior - se financiado por 20 a 30 anos - ao da operação de usinas térmicas movidas a gás e a óleo combustível. "Não temos estimativas de valores, mas certamente é muito mais barato do que construir mais hidrelétricas ou continuar pagando os encargos para o funcionamento das térmicas", afirma Neiva. Além disso, como a instalação de novas turbinas não aumenta a área dos reservatórios e afeta marginalmente o fluxo dos rios, "o impacto ambiental não é significativo".

Já os pesos-pesados da indústria e grandes consumidores livres demonstram receio com a possibilidade de arcar indiretamente com esses investimentos.

A sugestão da área técnica da Aneel é usar os recursos do Encargo de Serviços do Sistema (ESS), que ajuda a pagar o custo de funcionamento das usinas termelétricas, para financiar a ampliação de capacidade. Como o objetivo da agência é que o aumento da potência instalada sirva para diminuir o uso das térmicas nos horários de pico, a ideia é que esses recursos sejam alocados na instalação de turbinas.

A estimativa da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace) é de que a conta do ESS fique em pelo menos R$ 1,1 bilhão neste ano, atingindo o menor patamar desde 2009. O problema, segundo a Abrace, é que os grandes consumidores costumam fechar contratos de longo prazo diretamente com as geradoras, nos quais já pagam pela demanda apresentada no horário de pico.

"As grandes indústrias já privilegiam contratos de longo prazo de energia, com previsão de demanda máxima. É inadequado que elas paguem duas vezes pela mesma conta", diz o presidente da Abrace, Paulo Pedrosa. Embora reconheça que o objetivo da Aneel é bom, ele não concorda com o uso do ESS como forma de viabilizar os investimentos.

Edvaldo Alves Santana, diretor que relata esse processo na agência, acha imprescindível receber contribuições públicas sobre o assunto e considera a possibilidade de leilões específicos para a escolha dos projetos de repotenciação "mais atrativos". (Valor Econômico)