quarta-feira, 6 de julho de 2011

Esquisitice teórica, modelo de agências não é à prova de falhas

Mesmo quando funcionam, agências reguladoras são uma esquisitice teórica. Na contramão do princípio da separação dos Poderes, elas são autarquias ligadas ao Executivo que, entretanto, desempenham funções legislativas e quase judiciais. A ideia por trás dessa excentricidade é que existem assuntos que são complexos demais para ficarem a cargo do Parlamento. Um caso prototípico é o setor de medicamentos. Trata-se de área que envolve uma boa dose de conhecimento técnico; na qual atuam diversas empresas privadas com interesses que são ora antagônicos, ora oligopolistas; e que é vital para o bem-estar da população.

Na lógica que inspira as agências, é melhor gerir esse tipo de atividade via um comitê de especialistas, que teriam a missão de regular e fiscalizar o mercado tendo em vista o interesse público.

Para fazê-lo, contam com o poder de baixar normas (atribuição que classicamente pertence ao Legislativo), fiscalizar agentes (tarefa que normalmente cabe ao Executivo) e de julgar e punir atores que não cumpram as regras (função típica do Judiciário).

Para legitimar a escolha dos especialistas, eles são indicados pelo Executivo e confirmados pelo Legislativo. Têm mandato fixo com prazos não coincidentes. É essa relativa independência que diferencia agências de órgãos da administração direta, que por vezes também têm poderes de regulação e fiscalização. Evidentemente, todas as decisões das agências são passíveis de revisão judicial.

No caso de uma agência estadual, ela ainda precisa articular-se com suas correspondentes federais, a Aneel (elétrica), a ANA (água) e a ANP (gás e petróleo). O modelo de agências, inaugurado com a Comissão de Comércio Interestadual dos EUA, de 1887, surgiu como uma idiossincrasia americana, mas logo se espalhou. Aqui, foi introduzido com força no fim dos anos 1990.

É provável que esse esquema funcione melhor do que as alternativas disponíveis, mas ele não é à prova de falhas. Uma crítica recorrente é a de que diretores acabam se aproximando demais das empresas que deveriam fiscalizar e acabam colocando os interesses comerciais acima dos da população.(Folha de S. Paulo)


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