segunda-feira, 25 de julho de 2011

Energia renovável e mercado de seguros

Os investimentos do governo brasileiro e da iniciativa privada para aumentar a participação de fontes renováveis na matriz energética brasileira abrem novas perspectivas para o segmento segurador. De acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE), o percentual de participação de fontes renováveis na matriz energética local sairá de 44,8% em 2010 para chegar a 46,3% em 2020. O maior aproveitamento de fontes renováveis (pequenas centrais hidrelétricas, eólica e biomassa) visa ampliar a demanda total de energia elétrica do país, que deve crescer mais de 60% nos próximos dez anos. No plano decenal, a capacidade instalada no Sistema Interligado Nacional sairá dos 110 mil megawatts (MW) gerados em 2010 para 171 mil MW até dezembro de 2020.

É interessante notar que há uma clara prioridade em fontes renováveis no projeto, especialmente a eólica, que sairá do modesto patamar de 1% para 7% de participação na geração de energia nos próximos dez anos. Comparativamente, a participação de hidrelétricas cairá de 76% para 67% neste período, enquanto a geração proveniente de fontes alternativas crescerá de 8% para 16%. Para se ter ideia da pujança do setor, nos próximos três anos já foram anunciados investimentos de R$ 25 bilhões para a construção de 141 parques. Com isso, no prazo de dois anos, o país produzirá 5.272 MW de energia eólica, um salto considerável se levarmos em consideração que em 2005 essa matriz gerava apenas 29 MW.

Outro indicador animador para o segmento de seguros é o fato de a eólica estar deixando de ser somente uma fonte de geração favorável ao meio ambiente: ela também está tornando-se cada vez mais competitiva economicamente. A redução em seu preço (de R$ 180 por MW/h no primeiro leilão, em 2009, para R$ 122 por MW/h no leilão de 2010) sinaliza o claro interesse do investidor pelo setor.

Aproveitar as fontes renováveis é um privilégio para o Brasil e, ao mesmo tempo, um desafio para o mercado segurador. A complexidade dos riscos presentes na indústria eólica exige do corretor um grande conhecimento para compreender as peculiaridades desses projetos. Assim, ele deve conhecer e ter o domínio dos riscos de ponta a ponta, do início do contrato à execução da obra, e daí à geração de energia.

O mercado de seguros já dispõe de tecnologia, produtos e serviços que atendem às demandas das empresas envolvidas nessa cadeia: construtoras, fábricas, fornecedores, investidores, entre outros. Por mais de uma década, as corretoras e seguradoras promoveram um intercâmbio de tecnologia e conhecimento com os mercados europeu e americano, onde a indústria eólica se encontrava em um estágio bem mais avançado. As companhias que operam no País prepararam profissionais e equipes multidisciplinares que hoje estão entre os melhores especialistas do mundo em planejamento, projetos, plantas, gerenciamento de riscos, construção, montagem e operação de parques onshore (em terra).

No segmento onshore as práticas de colocação de seguros estão consolidadas. No entanto, vem à tona outro desafio ao securitário local. O Brasil possui um grande potencial de geração dos parques offshore (no mar), situados ao longo da costa marítima, onde os ventos sopram com mais força. Essa modalidade de geração envolve outros riscos que impactam na construção e operação: a complexidade de instalação das torres e aerogeradores e a sua exposição às condições marítimas, como movimentos de ondas e correntes. Os corretores multinacionais e o mercado segurador instalados no Brasil já parecem se movimentar para entender e atender essa nova oferta. Estão investindo em pesquisas, troca de experiência com especialistas internacionais, novas metodologias de análise e gerenciamento de riscos e sofisticados programas de seguros.

Não podemos deixar de apontar outra tendência. Com o desenvolvimento do setor eólico, um maior número de fabricantes de torres, hélices e serviços de assistência técnica deve instalar-se no Brasil. Outros, já presentes no país, preparam-se para ampliar as suas unidades fabris, prevendo a expansão de suas capacidades de fornecimento. A produção local certamente reduzirá os custos de peças e equipamentos, até então importados integralmente, advindo daí, a propósito do resultado obtido no passado, novas possibilidades de redução de preço por MW/h.

Eis aqui mais um incentivo à expansão eólica, culminando, consequentemente, em oportunidade de crescimento para a indústria de seguros, sobretudo para aqueles players que, acreditando no setor, investiram na especialização técnica para atender a demanda crescente por produtos de seguros, gerenciamento de risco, entre outros. (O Estado de S. Paulo)


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