segunda-feira, 16 de maio de 2011

Modelo ajuda Belo Monte a sair do papel

As discussões sobre licenciamento ambiental para as obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, aproveitando as águas do Rio Xingu, no Pará, ainda não terminaram, mas, a cerca de 3,2 mil quilômetros de distância, o trabalho está acelerado e a previsão é que o rio comece a correr e o terreno destinado ao reservatório seja inundado pelas águas em meados de junho.

Ele é feito por um grupo de funcionários do Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (Lactec), em Curitiba, que se debruça sobre o modelo que servirá para os estudos hidráulicos de construção da usina. "O principal objetivo é ver como a água vai se comportar naquela obra", disse o professor da Divisão de Hidráulica da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisador do Lactec, André Fabiani.

O trabalho é a base para a construção das ensecadeiras (barragens provisórias para desviar o rio enquanto as obras são realizadas). Mas também permite analisar possíveis consequências ambientais e saber até onde as águas do reservatório podem chegar, antecipando decisões que, do contrário, somente poderiam ser tomadas depois de as obras estarem em andamento.

A parceria para que o Lactec desenvolvesse o projeto foi firmada no ano passado. Este deve ser um dos maiores trabalhos a serem elaborados nos 52 anos do Departamento de Hidráulica e Hidrologia do Lactec. Treze projetos já implementados que enchiam um pavilhão de 3,5 mil metros quadrados foram retirados e nele se reproduz o reservatório e o vertedouro do sítio Pimental, um dos que compõem o complexo. O outro é o sítio de Belo Monte, com a principal casa de força, cuja miniatura será construída em um barracão anexo.

A previsão é que os testes nos modelos de Pimental e de Belo Monte estejam concluídos até o fim do próximo ano. As discussões ambientais travadas no local das obras, que ainda provocam atraso no início, ajudaram os técnicos do Lactec. "Hoje estamos em um ritmo bom de trabalho, vamos fazer os estudos antes de eles (construtores) entrarem no rio", afirmou Fabiani. A expectativa dos construtores é que as obras tenham início até novembro. Após isso começa a cheia na bacia do Xingu, que se encerra somente em maio.

Meticuloso. O trabalho é meticuloso e manual. Munidos de plantas aéreas que reproduzem o leito do Rio Xingu, os contornos de suas margens e as montanhas que o cercam, os funcionários vão colocando placas de madeira cortadas que dão forma ao ambiente. Uma cobertura de cimento vai desenhando o terreno e delineando uma espécie de S que o Xingu faz naquele local. O leito do rio é facilmente observável. Ali a água começará a correr em alguns meses. Logo depois, os técnicos fecharão as minicomportas e começará a inundação.

"A nós interessa a velocidade da água", disse Fabiani. É ela que determinará a forma, a altura e o tipo de pedra a ser colocada na ensecadeira para o desvio do rio, garantindo que o local das obras do reservatório fique totalmente seco. "Na natureza, há uma curva e pode concentrar a vazão em um ou outro lado." Segundo ele, apesar do tamanho reduzido em 110 vezes, o rio precisa correr no modelo da mesma forma que desliza onde nasceu. "Temos de projetar as cheias, as vazões e a seca." Afinal, a previsão é que a construção conviva com toda a sazonalidade da natureza. "A água é muito teimosa", destacou o pesquisador.

Também são previstas, no modelo, possíveis consequências ambientais que podem vir do projeto da usina. "Só a economia com a alteração possibilitada por este estudo aqui já pagou todo o nosso trabalho." O contrato do Lactec com o consórcio Norte Energia é de cerca de R$ 6,8 milhões. (O Estado de S. Paulo)