quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Energia nuclear e gás natural são o futuro

O petróleo é uma energia suja, cada vez mais cara e presente em países de regimes instáveis. Há inúmeras razões para se migrar para fontes alternativas. Mas você já parou para pensar nos problemas do etanol e das energias eólica e solar? O analista energético Robert Bryce sim, e ele listou todos os pontos fracos das energias alternativas no livro “Power Hungry: The Myths of “Green” Energy and the Real Fuels of the Future”, lançado este ano pela Public Affairs.

A obra é de fazer ecologista tremer. Em quase 400 páginas e 30 capítulos, Bryce cita inúmeros dados para defender a tese de que os hidrocarbonetos ainda ficarão por muito tempo como a principal fonte energética e o futuro não será dos ventos nem das placas fotovoltaicas, mas sim do gás natural seguido da energia nuclear.

Para o autor, uma fonte energética precisa passar pelo teste dos quatro imperativos: densidade energética, densidade de potência, custo e escala. Ou seja, a fonte energética precisa ser capaz de produzir muito trabalho usando quantidade limitada de espaço físico, o que é uma dificuldade para a energia eólica, solar e a dos biocombustíveis. E, com baixa densidade, mais alto será o preço da alternativa energética.

Claro que nem toda alternativa é igual em seus problemas e qualidades. Bryce demonstra certa empatia pela energia solar (diz até que tem placas fotovoltaicas instaladas em sua casa – o que hoje dá para comprar até na Amazon.com), mas lembra que para produzir um volume considerável é preciso inutilizar vastas áreas de terra – além do custo atualmente ser ainda muito caro. Os maiores ataques são dedicados à energia eólica. É cara, consome muito ferro e concreto para ser instalada e ainda perturba o sono de moradores vizinhos e a vida de milhares de aves migratórias. Não só isso. É uma fonte não confiável, que gera energia, em média, muito abaixo da sua potência total. Como nem sempre há vento forte, parques geradores eólicos precisam de uma outra indústria de energia que possa servir de backup para ser acionada quando as pás dos aerogeradores estejam paradas. Isso representa mais custo de capital e ainda ineficiência – já que colocar uma termoelétrica de backup para funcionar como vaga-lume faz com que ela consuma mais combustível e emita poluentes do que se estivesse em permanente operação.

O etanol de milho é tratado simplesmente como trapaça, um programa de subsídios agrícolas nos Estados Unidos disfarçado de política energética. Outros biocombustíveis, como o biodiesel, têm também a sua dose de culpa ambiental. Quase quatro milhões de hectares de floresta tropical foram destruídas na Indonésia com finalidade de produzir biodiesel de óleo de dendê para exportação para a Europa. Uma adoção maciça de biocombustíveis pode transformar florestas nativas em monoculturas de exportação para países ricos. Estranhamente, Bryce em nenhum momento fala sobre o etanol de cana, que o Brasil há alguns anos alardeava tanto. Ao contrário. O Brasil é citado no livro como um exemplo de que a indústria do petróleo sempre consegue se superar. O campo de Tupi é citado como uma das maiores descobertas recentes e o que mostra que ainda há muito petróleo a ser buscado nos oceanos.

O analista concorda que o carro elétrico é a coisa do futuro – e assim vai continuar ainda por um bom tempo. Para ser viável, é preciso construir uma enorme infraestrutura de carregamento e ainda diminuir o tempo de recarga. Com a tecnologia atual de baterias isso não é possível. E, pior, quem imagina que carros elétricos vão livrar os países ocidentais da dependência externa – principalmente dos países que supostamente dão abrigo a terroristas – está muito enganado. Os atuais carros elétricos utilizam enormes quantidades de compostos químicos raros, os lantanídios. Esses são elementos químicos chamados de terras raras e que se localizam à parte na tabela periódica – lembro que para este grupo os meus professores de química não exigiam que se decorasse. Pois bem, os carros elétricos dependem de altas quantidades de lantânio ou neodímio, elementos que têm a sua comercialização dominada pela China. O petróleo, pelo menos, é uma commodity, com inúmeros fornecedores e comercialização ampla.

Não que o autor tenha uma carteira do fã clube dos hidrocarbonetos, se é que isso existe. Bryce chega a defender um imposto ambiental contra o carvão, grande emissor de poluentes, mas uma fonte energética barata e em expansão. De fato, o mundo entrou na era do petróleo sem nunca ter saído da era do carvão – a China chega a gerar 80% de sua energia elétrica com essa fonte de energia. Se os hidrocarbonetos estão aqui para ficar, é melhor optar pela sua alternativa mais limpa: o gás natural. Bryce defende uma expansão do gás natural para geração de energia e transporte, já que o carro a gás natural é uma coisa corriqueira em outros países (como o Brasil e Paquistão), mas coisa rara nos EUA. E, após o gás natural, a energia que é ambientalmente correta em termos de emissão de poluentes e oferece potência suficiente é a nuclear. Bryce discute os novos desenvolvimentos da energia nuclear, inclusive reatores modernos mais compactos e baratos e formas de tratamento do lixo nuclear, mostrando muito otimismo com o assunto, enquanto que com algumas energias alternativas ele coleciona os problemas. Esse é um ponto mais fraco de um livro que, de resto, faz um bom trabalho em discutir conceitos energéticos que até um leigo entenderia.

Para os adeptos das energias verdes, o livro de Bryce pode ser uma ducha de água fria. Ou um desafio. O crescimento dos países em desenvolvimento vai demandar ainda mais energia num mundo que é faminto por executar novas tarefas e produtos, e está aí o celular no seu bolso e a tela do seu computador para provar isso. Uma análise desapaixonada do tema permitirá endossar as alternativas mais viáveis – ainda que com um custo marginal superior – das que estão sendo adotadas principalmente por poderosos lobbies, como o do milho nos Estados Unidos. O Brasil, que vem crescendo e poluindo gradativamente a sua matriz energética ainda antes de explorar o pré-sal, precisa entrar nesse debate.(Opiniao e Notícia)

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