sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Agentes apontam envelhecimento da mão de obra como desafio do setor nuclear no País

O governo brasileiro prevê construir, até 2035, entre quatro e oito novas usinas nucleares. No entando, para cumprir esse planejamento, que consta do Plano Nacional de Energia, especialistas acreditam que será necessário investir na formação de profissionais para a área. O déficit de engenheiros no País, que têm sido apontado como preocupante por diversos setores da economia, também será um desafio para o desenvolvimento nuclear.

"O setor nuclear atualmente atravessa um momento muito bom, com a retomada da construção de Angra 3, com o início de um projeto de reator brasileiro. Isso enquadra uma perspectiva aos profissionais do setor, ou que queiram entrar para o setor", analisa o presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Edson Kuramoto. Para o executivo, a descontinuidade do programa nuclear brasileiro causou um envelhecimento dos especialistas da área. "Atualmente, a média de idade é acima de 50 anos, é muito alta. É necessário que haja uma política de recursos humanos para que não se perca a capacitação tecnológica dos profissionais de 30, 35 anos".

O presidente da Aben destaca que "há um risco muito grande" de o País perder mão de obra no setor, uma vez que muitos dos profissonais capacitados estão próximos da aposentadoria e não teriam tempo de treinar a próxima geração. Kuramoto destaca que é preciso fazer com que o campo nuclear pareça mais interessante aos jovens que buscam lugar no mercado. "É necessário não só a formação, mas uma forma de atrair novos profissionais. Por causa do desenvolvimento acelerado do País, os profissionais têm um vasto campo ao optar por trabalho. A área de petróleo e gás tem oferta melhor, com salários melhores e perspectivas de desenvolvimento nas empresas. Essa concorrência torna mais complicada a renovação", explica o executivo.

Para Zieli Thomé Dutra, ex-presidente da Eletronuclear e pesquisador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Gesel-UFRJ), o caminho para formar novos talentos passa por um programa bem estruturado. "Há a necessidade de uma definição de uma política com expectativa de emprego. Por que eu vou trabalhar em uma área complicada, como é a nuclear, se depois vou ser equiparado a todos os outros e participar de um concurso público sabe-se Deus lá quando? Ninguém arrisca a vida assim", comenta o professor.

Dutra cita, como exemplo, o Projeto Urânio, desenvolvido nos anos 70 como uma parceria entre a Nuclebrás e a Coppe/UFRJ para a formação de pessoal em grande escala. Os alunos eram selecionados por um concurso e ganhavam um contrato provisório na estatal.

O especialista também enfatiza a necessidade de estar atento ao nível dos cursos oferecidos. "Tem que haver saída para formar pessoas qualificadas. Não estamos brincando. Não estamos formando pessoas para um cargo em uma estatal qualquer, é gente para colocar na frente de uma usina nuclear".

Kuramoto, da Aben, não acredita que o caminho seja o retorno a um programa nos moldes do Projeto Urânio, mas defende que exista algum tipo de centralização para definir os rumos na área. "Hoje já temos uma massa crítica, grupos de pesquisa formados. Não tem a necessidade de um programa nesse nível. Mas, sim, poderíamos ter um órgão central que pudesse coordenar a formação desses recursos humanos, orientando em que áreas seria necessária a formação de novos profissionais". (Jornal da Energia)

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