segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Furnas desafia sua controladora Eletrobras no leilão de Teles Pires

A disputa em torno da concessão da usina hidrelétrica Teles Pires mal começou e está provocando uma forte queda de braço política dentro da Eletrobras. A subsidiária Furnas ignorou o processo aberto pela Eletronorte , outra subsidiária do grupo, para a composição de consórcios que vão disputar o leilão da usina. A empresa comandada por diretores indicados pelo PMDB abriu, por conta própria, uma chamada pública para interessados em formar parceria e informou ao Valor , por meio de sua assessoria de imprensa, que caberá à diretoria de Furnas a decisão de com quem irá ao leilão, previsto para o dia 17 de dezembro.

No governo, o mal-estar é geral, pois expõe a fragilidade do grupo Eletrobras, que tem pretensão de vir a ser "a Petrobras do setor elétrico", mas sequer consegue unir suas subsidiárias em torno de um único objetivo. Às empresas privadas que se cadastraram e estão interessadas em ter a Eletrobras como sócia em Teles Pires, interlocutores do governo têm dito que o caso será resolvido até o dia do leilão.

A ideia da Eletrobras é fazer um processo muito parecido ao que fez em Belo Monte. Nessa usina, a Eletronorte, que tem diretores vinculados ao PT, fez a chamada pública em nome de todas as subsidiárias e depois a holding definiu a formação de consórcios. Todo o processo da hidrelétrica foi comandado pelo diretor de engenharia da Eletrobras, Valter Cardeal, e pelo diretor da Eletronorte, Adhemar Palocci. Ambos tem vínculos com o PT, apesar de o presidente da Eletrobras ser do PMDB.

O descontentamento dentro do PT com o comportamento da administração de Furnas em leilões de usinas hidrelétricas é antigo. No leilão das usinas do Madeira, a subsidiária assinou um acordo de exclusividade com a Odebrecht e as duas empresas tinham vantagem competitiva por terem, juntas, estudado o projeto. No fim, as empresas ganharam apenas Santo Antônio e a usina de Jirau, na última hora, ficou para o consórcio liderado pela GDF Suez. Em rápida entrevista, Cardeal disse apenas que o processo de Teles Pires será feito pela Eletrobras, mas não quis discutir a questão de Furnas.

Na dúvida de como o processo vai se desenrolar, boa parte das empresas interessadas na usina se cadastraram tanto na Eletronorte quanto em Furnas. O interesse dos investidores em torno de Teles Pires é muito grande por vários motivos. O preço-teto da energia estabelecido em R$ 87 o MWh é considerado bom e tende a dar bons retornos aos investidores. A usina não tem grandes problemas sócio-ambientais, não está em terras indígenas e não envolve o deslocamento de população. Além disso, é a maior hidrelétrica de um complexo que terá capacidade de gerar mais de 3.200 MW de energia e ser dono da principal concessão abre uma enorme vantagem competitiva para as outras usinas do complexo. Isso porque a sinergia entre elas, que envolve inclusive operação de reservatório, é muito grande e potencializa retorno.

Entre os interessados na usina de 1.800 MW que vai ser instalada no rio Teles Pires, em Mato Grosso, estão todos os grandes grupos geradores como GDF Suez, Neoenergia, CPFL, Cemig, Copel e também da Alupar e Odebrecht. Esta última é, por enquanto, dona apenas de parte da usina de Santo Antônio mas tem ambições de se tornar uma das maiores geradoras do país. Todas as construtoras, que inclui as três grandes (Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Odebrecht) também estão interessadas e estudando com afinco o projeto.

Mesmo quem formar parceria com a Eletrobras vai enfrentar um concorrente forte - a Copel, que também realizou chamada pública para formação de consórcios. A estatal paranaense foi agressiva no leilão realizado em meados desse ano e levou a concessão da usina de Colíder, que também fica em Teles Pires. A Cemig é outra interessada e se for à disputa será em parceria. De acordo com o diretor financeiro da empresa, Luiz Fernando Rolla, entretanto, a estatal mineira não se cadastrou na Eletrobras para formação de consórcios. Mas Rolla reiterou o interesse na disputa.

A usina vai requerer investimentos de R$ 3,4 bilhões, segundo os estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), e ainda não tem licença ambiental. A energia assegurada é de 985 MW e 15% poderá ser vendida livremente. Uma simulação de retorno feita pelo Itaú mostram ganhos para o capital do investidores na faixa dos 20%, bastante alto se comparado a outros projetos leiloados recentemente. (Valor Econômico)
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