quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Artigo: Projetos de energia versus retorno financeiro

Os debates sobre a questão da energia ainda estão presos aos temas da geração e distribuição em larga escala. Observado do ponto de vista mais abrangente, o tema remete a iniciativas que contemplam os grandes consumidores, como as cidades maiores e os complexos industriais. Num país com as características do Brasil, onde boa parte dos mais de 190 milhões de habitantes se distribui pelas regiões litorâneas, a tendência das políticas de energia é também concentrar a oferta desse e de outros itens de infraestrutura nessa faixa do território.

Essa distribuição demográfica tem levado os gestores públicos e investidores  privados a privilegiar as grandes concentrações, onde supostamente se encontram os melhores mercados e maiores facilidades para a entrega do serviço. No entanto, o rápido crescimento econômico dos últimos anos, que também se verifica nas zonas de menor densidade populacional, como as regiões em torno dos grandes negócios agroindustriais, tem exigido a interiorização da oferta de energia.

Restam desassistidos, porém, os habitantes das regiões menos densas com grande vulnerabilidade ambiental, onde não se pode recomendar atividade agrícola ou pastoril extensiva nem cabem plantas industriais. Nesses rincões, a necessidade de energia esbarra no desequilíbrio entre procura e retorno financeiro: a pouca demanda, encarece a oferta da energia produzida e transmitida pelas grandes redes e o baixo retorno desaconselha investimentos na produção local. Para comunidades com essas características é que surgiram muitos projetos de desenvolvimento sustentável que carregam soluções inovadoras, muitas vezes embasadas no conhecimento tradicional.

O uso de metano produzido emd epósitos de resíduos orgânicos, por exemplo.Ou a produção de energia, a partir domesmo princípio, da queima de gás residual. Mas nem tudo é solução emergencial. Também são registrados os projetos de produção de energia a partir de fontes alternativas surgidos do puro desejo de fazer a coisa certa. É necessário, para isso, ter mais do que a convicção em favor da sustentabilidade. É preciso desenvolver as tecnologias adequadas até seu extremo, porque o resultado de processos inovadores precisa ser inequívoco e demonstrado permanentemente. No caso de empreendedores que decidem transformar seus negócios emmodelos de sustentabilidade a partir da convicção de que o mais correto também pode ser o mais rentável, o que se demonstra é que o conhecimento se  associou à consciência ambiental e a uma noção de negócio realista e de longo prazo.

São ainda casos isolados, se comparados ao modelo de negócio predominante, embora cada vezmais numerosos, e namaioria das vezes funcionando  discretamente. Quando se analisa uma empresa como a Embaré, no  texto ao lado, pode-se facilmente imaginar o nível de satisfação que oferece ao empreendedor, seus colaboradores e clientes um negócio no qual o gás residual se transforma em fonte de energia, formando uma espiral de resultados compartilhados. Mas tambémse pode comprovar como tais iniciativas reduzemou eliminam riscos e o efeito que produzem na comunidade e nos públicos de interesse do empreendimento em termos de educação para a sustentabilidade. Autor: Luciano Martins Costa é jornalista e escritor, consultor em estratégia e sustentabilidade (Brasil Econômico)

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Leia tmbém:
* Definição do preço da energia traz expectativa ao mercado
* Novo estudo do GESEL sobre Integração Energética