“Fazemos diferentemente as mesmas coisas.” Por muitas vezes essa frase foi pronunciada nas discussões sobre aprimoramentos em mercados de energia elétrica promovidas na Association of Power Exchanges (APEx), conferência realizada em outubro em Dublin, Irlanda. Após dois dias de debate entre representantes de diferentes partes do mundo, revelou-se que as semelhanças prevalecem sobre as particularidades dos mercados, seus graus de maturidade e os modelos econômicos em que estão inseridos.
A reputação da APEx como instituição internacional que fomenta discussões de elevado nível técnico e intercâmbio de conhecimento já é amplamente conhecida no setor elétrico e foi mais uma vez confirmada na conferência anual em Dublin. O primeiro conjunto de palestras ocupou quase a totalidade do primeiro dia do evento e se encarregou de um dos principais benefícios proporcionados pela APEx: obter, em um único fórum, o panorama dos mercados de energia em todo o mundo, com a situação atual e seus desafios à frente.
Sob esse escopo, o grupo inicial de palestrantes foi dividido em três partes: América do Sul e América do Norte, Europa e Ásia-Pacífico. Tivemos oportunidade de ouvir o relato do representante do PJM (EUA) sobre como a crise econômica reduziu a demanda de energia e, por consequência, o preço; como o potencial de reservas de gás de xisto derrubou os preços futuros de energia elétrica e mudou o panorama do ramo de combustíveis; seguido da apresentação da Cammesa, que nos contou como pretende manejar soluções para atender sua demanda crescente na Argentina; e dos colombianos do XM, que abordaram o impacto do fenômeno do El Niño em 2009 e 2010 no mercado de energia elétrica da Colômbia . As demais palestras retrataram as realidades da APX-Endex (Holanda, Reino Unido e Bélgica), EirGrid (Irlanda), Omel (Espanha), além de Polônia, Austrália, Filipinas, entre outros.
Em outras frentes de discussão, ganhou espaço o tema “Mudanças climáticas e o impacto das fontes renováveis”, com enfoque na energia eólica; além dos painéis “Mercados emergentes”, com apresentações de representantes da Índia, Omã, China, Vietnã e Rússia; e “Riscos de migrar para ambientes mais regulados em diferentes regiões do mundo”, com discussões acerca do papel do regulador, políticas públicas e investimentos; e “Reposta da demanda e redes inteligentes”, com palestras sobre potencial da resposta da demanda nos Estados Unidos, projetos de smart grid e carros elétricos.
Este espaço certamente é limitado para detalharmos cada uma dessas apresentações, mas a conclusão geral ao final do encontro foi de que as agendas dos países revelam, hoje, muitos temas em comum, o que permitiu a intensificação da troca de experiências no próprio evento. Muitas vezes nossas participações em seminários anuais como o da APEx selaram o início de parcerias que resultaram em rica troca de conhecimento, via visitas técnicas, estudos de temas específicos e, neste caso, vale ressaltar o modelo brasileiro de contratação de energia, via leilões, que comumente desperta interesse de instituições estrangeiras.
A CCEE será a anfitriã da próxima conferência da APEx, que será realizada no Brasil em outubro de 2011. É a primeira vez que o Brasil sedia este evento e, certamente, manterá a qualidade técnica dos debates, com temas de dimensão global e atuais ao mercado. O convite à CCEE para atuar como responsável pelo APEx 2011 é uma mostra de reconhecimento da atuação do Brasil no mercado mundial de energia elétrica nos últimos anos. A parceria com a APEx nasceu em fevereiro de 2000, quando a CCEE associou-se à entidade já ciente da importância de manter relação estreita com as discussões conduzidas no mundo todo e de seu papel de vanguarda no setor elétrico brasileiro.
Nossa atuação na APEx se intensificará não apenas pela conferência, mas ainda pela vaga que o presidente da CCEE passará a ocupar no Conselho de Diretores (Board of Directors) da associação. Nossa eleição para o mandato de um ano foi deliberada em Assembleia Geral Anual da APEx, realizada ao final do evento na Irlanda. Pela primeira vez o Brasil assume um dos nove assentos deste fórum presidido por David La Plante, vice-presidente de Monitoramento de Mercado do ISO-New England (EUA). Teremos oportunidade de relatar neste espaço as discussões mantidas neste fórum.
Fundada em 1996, a APEx é a mais importante instituição mundial de operadores de mercados de energia elétrica e conta hoje com 43 associados. A similaridade das atribuições das entidades torna os encontros bastante produtivos e aproxima as fronteiras geográficas. As fronteiras passam a ser as do conhecimento. E essas são as que nos propomos a ultrapassar com maturidade e ampla discussão entre todos os envolvidos do setor elétrico brasileiro. *Presidente do Conselho de Administração da CCEE (Fonte:CCEE News)
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