quarta-feira, 28 de julho de 2010

Tolmasquim: Belo Monte não sairia do papel sem governo

RIO DE JANEIRO - O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, afirmou nesta terça-feira que se o governo não assumisse quase metade da usina hidrelétrica de Belo Monte (PA), provavelmente o projeto ficaria no papel.

"É uma usina complicadíssima em um lugar complicado. Vai precisar ação permanente do governo. É uma usina que se você largar, não vai sair", disse ele a jornalistas após palestra no Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), no Rio de Janeiro.

A venda da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA), foi cercada de muita polêmica e até hoje desperta protestos de ambientalistas que consideram a obra agressiva à região.

Depois de ter sido adquirida pelo consórcio Norte Energia, no qual havia do governo apenas a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), entraram a holding Eletrobras e sua subsidiária Eletronorte. As três juntas possuem 49,98 por cento do ativo. A maior participação individual é da Eletronorte, com 19,98 por cento, enquanto Eletrobras e Chesf têm 15 por cento cada.

Estão ainda na sociedade o fundo de pensão da Petrobras Petros e a Bozano Participações, com 10 por cento cada, enquanto a Gaia Participações detém 9 por cento.

O restante é dividido com o fundo de investimentos Caixa FI Cevix, com 5 por cento; as construtoras Queiroz Galvão e OAS possuem, com 2,51 por cento; o fundo de pensão da Caixa Econômica Federal, Funcef, com 2,5 por cento; e Cetenco, Galvão Engenharia, Mendes Júnior, Serveng e Contern com 1,25 por cento cada.

Sinobras e J. Malucelli Construtora têm 1 por cento do consórcio cada e a J. Malucelli Energia tem 0,25 por cento.

Dessa maneira, o setor privado diluiu o risco aumentando o número de participantes e o governo ficou com praticamente a metade do custo da construção, estimado em 19 bilhões de reais pelo governo e em 30 bilhões de reais pela indústria.

A usina deve entrar em operação em 2015 na primeira fase e concluir a obra em 2019. Apesar de uma capacidade média instalada de 11 mil megawatts, vai gerar apenas 4.571 megawatts médios por não possuir reservatório.

MAIS ÓLEO
Tolmasquim informou também que a linha de transmissão Tucuruí-Macapá-Manaus, que reduziria o uso de óleo combustível na capital do Amazonas, está com o licenciamento ambiental atrasado em um ano, mas que aguarda para breve uma decisão dos órgãos regulatórios.

"Ali tem problemas por ser a região amazônica, são mais sensíveis e precisam de mais estudos", disse sobre a demora de obter a licença.

O governo pretende continuar licitando usinas na região amazônica, apesar dos obstáculos, alegando que 59 por cento do potencial hidrelétrico do país estão na região e apenas 7 por cento foi aproveitado.

"Não está se falando em destruir o bioma, as hidrelétricas ocupam menos de 0,5 por cento do bioma da Amazônia", disse.

A dificuldade de conseguir licenças ambientais para hidrelétricas --que limitou inclusive a três o número de usinas novas no próximo leilão de energia de sexta-feira-- poderá levar a EPE a oferecer em mais um leilão previsto para o final do ano usinas termelétricas, contrariando uma decisão divulgada pelo governo de só oferecer usinas de fonte renovável de energia aos leilões.

"A gente não planeja licitar térmicas, só renováveis, mas se não conseguir licença para hidrelétricas vamos ter que levar as térmicas para complementar a energia que vai ficar faltando para daqui a 5 anos", disse Tolmasquim, ressaltando que é as licenças ambientais para térmicas saem mais rápido. "Mas apenas termelétricas a gás, óleo nunca", completou. (Reuters)