sexta-feira, 9 de março de 2012

Caso da Celpa ficou mais crítico no início de 2012

Já no quarto trimestre do ano passado, a Celpa, distribuidora de energia do Pará, havia piorado sua situação financeira. Os números não vinham bem desde meados de 2010, mas o balanço não auditado do fechamento do ano passado não chega a mostrar uma empresa completamente quebrada. Pelo menos não até aquele momento. Ela ainda tinha R$ 208 milhões em caixa, em comparação com R$ 259 milhões no fim de setembro.

Os números sugerem que o cenário realmente se agravou no início deste ano. Como a própria empresa diz no pedido de recuperação judicial, a situação piorou quando os credores passaram a bloquear recebíveis futuros da companhia, que tinham sido dados em garantia.

Os R$ 208 milhões que a empresa tinha no caixa ao fim de 2011 representavam apenas 22% do que ela tem de compromissos com amortização de dívidas e pagamento a fornecedores neste ano. Em setembro, essa relação era de 33%.

Com os credores retendo parte dos R$ 674 milhões que a empresa tem para receber de clientes, a chance de a Celpa honrar as contas fica ainda menor. E o cenário fica mais crítico quando se sabe que pouco mais de R$ 100 milhões desse "contas a receber" estavam atrasados há mais de 360 dias em setembro, e sem provisão.

A empresa divulgou os números não auditados na terça-feira (sem incluir as notas explicativas) para que a negociação com suas ações fosse retomada na bolsa, após o pedido de recuperação judicial apresentado por ela. Os negócios com os papéis foram suspensos no dia 28 e liberados na manhã de ontem. Ainda assim, nenhum negócio foi realizado, dada a baixíssima liquidez.

O prejuízo no ano todo foi de R$ 177 milhões, ampliando em 76% a perda de R$ 100,73 milhões apurada em 2010. Apenas no quarto trimestre, a perda foi de R$ 17 milhões, abaixo do prejuízo de R$ 81 milhões apurado entre julho e setembro.

Da perda total registrada em 2011, R$ 105 milhões devem afetar entes ligados ao governo federal, por causa da participação direta e indireta na Celpa. A Eletrobras possui 34% do capital da própria distribuidora de energia paraense, enquanto o BNDES tem exposição indireta de 9,7% e o fundo de infraestrutura do FGTS, de cerca de 15%.

O BNDES tem ações da Rede Energia, empresa que controla a Celpa e também tem ações na bolsa. O FI-FGTS participa da controladora do grupo Rede, que não tem capital aberto.

Apesar de apenas a Celpa ter entrado com pedido de recuperação judicial, o governo mostra preocupação com a situação das outras distribuidoras controladas pela Rede Energia, que atuam nos Estados do Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e em cidades do interior de São Paulo, Minas Gerais e Paraná.

O balanço da Celpa mostra que ela tinha em dezembro compromissos de longo prazo de R$ 176 milhões com "partes relacionadas", o que inclui principalmente essas outras empresas de distribuição de energia.

Na terça-feira, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deu um prazo para que a companhia apresente um relatório com propostas para correção das falhas e melhoria dos serviços, em um processo que pode levar à perda da concessão da distribuidora. (Colaborou Ana Luísa Westphalen) (alor Econômico)


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