terça-feira, 29 de junho de 2010

Tendência é descentralizar distribuição

Empresas, fornecedores de equipamentos, institutos de pesquisa e concessionárias brasileiras e americanas estão dedicadas a implementar "redes inteligentes" para distribuição de energia. No Brasil, o experimento poderá acontecer em Sete Lagoas, a setenta quilômetros de Belo Horizonte, onde a Cemig - Companhia Energética de Minas Gerais já está instalando aparelhos para automatizar e modernizar o sistema elétrico. O projeto deve ser concluído até o fim de 2011.

As redes inteligentes ainda usam postes e fios, mas recebem "acessórios" eletrônicos e de telecomunicações que podem reduzir ou evitar apagões, minimizar desperdícios e perdas, melhorar a qualidade na distribuição, ampliar as informações para os consumidores e reduzir as contas mensais. As smartgrids também diminuem a necessidade de grandes usinas a milhares de quilômetros dos centros consumidores e aceitam fontes alternativas, como eólica e solar.

Outra possibilidade é o uso de aparelhos domésticos e industriais programados para ligar em horários de energia mais barata. Assim como na telefonia, o valor da eletricidade varia ao longo dia, crescendo nos horários de maior demanda. No Brasil de hoje, apenas grandes consumidores tem tarifas diferenciadas.

Os testes de campo no Brasil pretendem "tropicalizar" as redes inteligentes, adequando-as ao perfil de consumo e necessidades energéticas nacionais. Nos Estados Unidos e Europa, a demanda energética por habitante é muito maior e as smartgrids servirão para racionalizar o consumo e cortar emissões de gases de efeito estufa em países que geram energia queimando combustíveis fósseis. No Brasil, a maior fatia da geração ainda é hidrelétrica. "Teremos maior confiabilidade em nosso sistema e cortaremos desperdícios e custos de manutenção", diz o superintendente de Desenvolvimento e Engenharia da Distribuição da Cemig, Denys Cláudio Cruz de Souza.

Ex-vice-presidente da AES Eletropaulo, Cyro Vicente Boccuzzi, diretor da consultoria ECOee Energia Eficiente diz que as tecnologias de distribuição estão obsoletas. "Os sistemas atuais têm nível de confiabilidade incompatível com as necessidades modernas. Além disso, construir redes no modelo antigo das usinas de grande porte, têm alto preço ambiental. As smartgrids podem elevar eficiência dos sistemas e reduzir a necessidade de mais geração", afirma.

Para Boccuzzi, o mundo está migrando para sistemas de microredes descentralizadas, em que cada cidade, residência ou prédio produz sua energia, alimentando sistemas maiores e complementares. O que parece ficção já é realidade na cidade de Masdar, nos Emirados Árabes Unidos, que vem sendo construída para ser autosuficiente em energia renovável. "Na União Européia, muitos consumidores também são geradores de energia", diz. No pacote de recuperação econômica lançado por Barack Obama em fevereiro de 2009, 3,5 bilhões de dólares foram dedicados a cem projetos de smartgrids que serão executados até 2012. "No exterior, redes inteligentes já chegaram às políticas públicas. No Brasil, não alcançamos esse estágio", diz Cruz de Souza, da Cemig. (Valor Econômico)