quarta-feira, 5 de maio de 2010

Energia renovável aumenta presença na matriz energética

A expansão da capacidade instalada da geração de energia elétrica no Brasil não prevê novas usinas termoelétricas que utilizam combustíveis fósseis, conforme divulgado no Plano Decenal de Energia (PDE) 2019, colocado ontem em consulta pública pelo Ministério de Minas e Energia. A intenção é que as fontes alternativas e as 33 hidroelétricas previstas a partir de 2015 atendam ao crescimento da demanda.

Assim, do investimento consolidado de R$ 175 bilhões em geração de eletricidade nos próximos dez anos, R$ 108 bilhões serão destinados aos novos projetos de geração hidráulica, como o complexo Tapajós (8.400MW) e o complexo Teles Pires (3.300MW), ambos na região Norte, e aos parques eólicos, usinas a biomassa e pequenas centrais hidroelétricas (PCHs). A geração a óleo, gás natural e carvão deve parar de se expandir em 2014 (até lá, há empreendimentos já contratados que ainda começarão a operar).

O montante faz parte dos R$ 951 bilhões que contemplam todo o plano. Destes, 71% serão destinados ao setor de petróleo e gás (R$672 bilhões) e 22,5% (R$214 bilhões) à geração e transmissão de energia elétrica. Etanol e biodiesel precisarão de investimentos na casa dos R$ 66 bilhões (6,9%).

“O PDE prevê que continuemos buscando nossa vocação que são as hidroelétricas. Em complementaridade, vamos sempre privilegiar as mais baratas e com menos impactos ambientais”, informou o Ministério de Minas e Energia. No total, a capacidade instalada no País crescerá 61% no período: começou este ano com 103,5mil MW e chegará, segundo a estimativa do PDE, a 167 mil MW ao final de 2019.

Para o coordenador do Grupo de Estudos do Setor de Energia Elétrica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Gesel/UFRJ), Nivalde de Castro, o planejamento se mostra importante ao permitir os ajustes necessários. “Mostra a percepção de que não é essa matriz que o Brasil quer, sendo uma das maiores economias verdes do mundo. É uma correção de rota”, avaliou.

O especialista acredita que o PDE é o maior incentivo para as fontes alternativas, já que ele sinaliza que haverá leilões específicos e regulares. “Não existe nenhum denominador comum para leiloar fontes diferentes. Isso implica dizer que não teremos mais leilões genéricos”, disse.

O próprio PDE ressalta, porém que a concretização do plano com esta composição de fontes na expansão planejada depende principalmente da obtenção de licenças prévias ambientais, de modo que as usinas possam participar dos leilões. “Caso contrário, uma eventual expansão de projetos termoelétricos, preferencialmente movidos a gás natural, mas também projetos a carvão mineral, poderão constituir uma alternativa de atendimento à demanda”, explica o documento.

Para o secretário executivo do Centro Nacional de Referência em PCH (CERPCH), Geraldo Tiago Filho, a questão é fundamental para a fonte atender à expectativa de expansão. “Não existe PCH com licença de instalação no mercado. Precisamos acelerar isso, já que além de encarecer a obra, as exigências ambiental estão demorando muito”, diz.

Fontes
Na evolução da capacidade instalada, o PDE 2009-2019 prevê que as usinas que utilizam a fonte hídrica tenham capacidade de gerar 116,6 mil MW em 2019, contra 83,1 mil MW neste ano (alta de 40%); as eólicas saltem de 1,4 mil MW para 6 mil MW (crescimento de 328%); a biomassa vá de 5,3 mil MW para 8,5 mil MW (expansão de 60%); e as PCHs saiam dos 4 mil MW atuais para 6,9 mil MW em dez anos (aumento de 72%).

Já a estimativa do governo para o consumo de energia elétrica no Brasil é de um crescimento de 56% até o fim de 2019 - dos 455TWh neste ano para 712TWh no final do período. A maior alta prevista é da classe comercial, com 6,2% ao ano, seguida do segmento industrial, com 5,1% ao ano. O índice médio para todas os setores do País é de 5,3%. O PDE projeta ainda um crescimento de 5,1% na carga de eletricidade entre os anos de 2010 e 2019. A projeção é então de um acréscimo no sistema de 3,3 mil MW médios a cada ano.

Petróleo
Com estimativa prevista pelo PDE de investimentos de R$ 672 bilhões até 2019, a produção de petróleo para o período, incluindo recursos não descobertos, deve saltar dos 2,25 bilhões para 5,11 bilhões de barris diários no período 2010-2019, alta de 127% na década. Do total, metade corresponderá a contribuição das áreas do Pré-Sal, que somarão 2,54 bilhões de barris por dia.

Também ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou um estudo sobre a exploração e produção do petróleo na área do pré-sal, onde concluiu que “o novo marco regulatório deveria manter a possibilidade de haver diversas empresas operadoras”. De acordo com o documento, a existência de um operador único pode gerar atrasos no ritmo de produção e aumentos nos custos de operação e no desenvolvimento das áreas. (DCI)
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