quarta-feira, 10 de março de 2010

Usina de Belo Monte e a energia de que o País precisa

Com toda a consideração que merecem os ambientalistas, o Brasil não pode, não deve e não prescindirá da construção da usina de Belo Monte. Equivalerá a uma nova Itaipu, que abastece o Brasil em 20% de suas necessidades energéticas. Muitos dizem que é chantagem dizer que sem as hidrelétricas a solução será mais poluidora, com as termelétricas. Mas é isso mesmo, temos a maior bacia hidrográfica na Amazônia e não aproveitá-la é um crime de lesa-pátria.

Por isso foi bom saber que o considerado competente ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, negou qualquer pressão política para a liberação do processo de licenciamento da Usina de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará. Ele asseverou que “isso não procede”, de maneira peremptória. Como tem sido corriqueiro no governo federal e no Rio Grande do Sul, quem deixa cargos de confiança sai atirando. Talvez uma inconformidade com a dispensa e o sofrimento pela perda do ganho financeiro.

Quem sabe com alguma razão nas críticas. Porém, a sensação que fica é a de certa frustração e o que é dito bem que poderia ter sido falado antes. No caso de Belo Monte, alguns dirigentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Meios Renováveis (Ibama) colocaram seus cargos à disposição, alegando pressões de Minc pelo licenciamento. Mas as compensações serão tantas que saiu a licença.

O ministro deu todas as garantias de que nenhum prazo para o licenciamento da usina era predeterminado. O prazo seria até que todas as dúvidas dos técnicos estivessem respondidas, afirmou. Previsto para outubro, o licenciamento ambiental foi adiado várias vezes e atrasou o leilão para a construção da hidrelétrica, que estava previsto para 21 de dezembro, mas ficou mesmo para este ano. Assim estão as obras públicas, inclusive aquelas constantes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Uma das principais realizações do setor energético do PAC, a Usina de Belo Monte terá potência instalada de 11,2 mil megawatts (MW). Essa energia seria suficiente para atender a 20 milhões de pessoas por um ano. O empreendimento enfrenta protestos de ambientalistas, populações ribeirinhas e 15 etnias indígenas cujo território seria afetado pela construção. Eles apontam que a obra causará redução do volume de água na região e isso afetará a fauna e a flora.

Além disso, condenam o alagamento de 440 quilômetros quadrados da região. O governo federal diz, com razão, que mais da metade desta área é inundada pelo Xingu em época de cheia. Os críticos apontam que a usina atrairia 100 mil pessoas para a região e aumentaria o desmatamento com garimpo, exploração madeireira, além da caça e pesca ilegal. Apesar dos protestos, a Fundação Nacional do Índio (Funai) aprovou a obra. Então, o País não pode ficar à mercê do excesso de pruridos ambientais e dos indígenas, da mesma forma que não podemos ir derrubando tudo o que se encontra pela frente para construir hidrelétricas.

A Usina de Belo Monte será construída no rio Xingu e, como dito, terá capacidade para gerar mais de 11 mil megawatts de energia elétrica. Será a terceira maior hidrelétrica, ficando atrás apenas da chinesa Três Gargantas, que tem capacidade de gerar 22.400 megawatts, e de Itaipu, com 14 mil megawatts. O fundamentalismo não pode nortear as obras públicas no Brasil. A burocracia fiscalizadora e os cuidados com o meio ambiente não devem impedir um progresso salutar. A virtude está no meio. Na relação custo/benefício para o País, Belo Monte é uma prioridade, da mesma forma que outras hidrelétricas. (Jornal do Comércio)