terça-feira, 9 de março de 2010

Opinião: Apagão do investimento

Uma sucessão de pequenos apagões tem marcado o cotidiano de muitas cidades brasileiras nos últimos meses. Poderiam até passar despercebidos, já que variam os bairros afetados e a duração de cada episódio, não fosse sua impressionante recorrência.

Reportagem publicada neste domingo pela Folha deixou claro que as falhas de fornecimento não podem ser atribuídas a problemas isolados. As concessionárias de energia têm diminuído seu investimento em infraestrutura -e as que mais cortaram gastos são as responsáveis pelo maior número de blecautes.

Em uma das distribuidoras, os valores investidos chegaram a ser 30% inferiores no ano passado, em relação a 2008. E há pelo menos três casos de cortes superiores a 17%.
Especialistas veem erros na estratégia de negócios dessas empresas, que parecem ter subestimado o reaquecimento da economia após a crise, deflagrada no final de 2008. Quando o consumo começou a se revigorar, a partir de meados do ano passado, estavam despreparadas para atender à demanda.

É papel da Agência Nacional de Energia Elétrica acompanhar o movimento das empresas, trabalhar para que tais erros sejam evitados e assegurar a oferta de energia elétrica segundo as necessidades do país.

A Aneel acena com uma medida positiva, que obrigará as concessionárias a repassar diretamente aos clientes, por meio de descontos na cobrança de luz, compensações em caso de comprovada má qualidade do serviço. Falta, todavia, regulamentar a norma -o que deveria ser feito com urgência.

Tornar os custos da incapacidade de atendimento maiores do que os benefícios do corte de investimentos é uma maneira eficiente de incentivar a expansão.

A medida não exclui a necessidade de fiscalização mais assídua. Após sucessivos apagões, uma vistoria da Aneel na Light, que opera no Rio, identificou falhas de manutenção dos equipamentos. Ficou patente, neste caso, que a ação fiscalizadora tardou. Não é demais lembrar o óbvio: o papel das agências é atuar em defesa do consumidor -e não se acomodar aos interesses das empresas concessionárias. (Folha de S. Paulo)