A contratação de uma consultoria para encontrar alternativas para as distribuidoras federalizadas é a última cartada da Eletrobras para tentar estancar uma sangria que vem provocando rombo superior a R$ 1 bilhão por ano em seu patrimônio. Herança das privatizações no setor elétrico, são seis empresas que abastecem estados do Norte e Nordeste e enfrentam altos níveis de inadimplência e sofrem com ingerência política em suas áreas de atuação. Para tentar reverter o quadro, a estatal busca um modelo de venda de participação nas empresas à iniciativa privada. No primeiro semestre de 2013, o prejuízo das empresas já soma R$ 645 milhões.
Mantido o ritmo, há chances de superar as perdas do ano passado, que foram de R$ 1,3 bilhão, uma alta de 30% com relação ao ano anterior, resultado de uma receita que inclui aumento do consumo com preços mais altos da energia. Desde que assumiu as distribuidoras, a estatal já acumula perda, apenas com essas operações, superior a R$ 9 bilhões. A situação passou a ser vista com mais atenção pelo mercado após a edição da lei 12.783, que reduziu os preços da energia, com impacto sobre as receitas da estatal com seus ativos de geração. “Ou a Eletrobras acaba com essa sangria ou vai morrer de inanição”, alerta o professor Nivalde de Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico do Instituto de Economia da UFRJ (Gesel).
A empresa teve uma redução de receita de 27,5% no primeiro semestre, ampliando o peso das perdas com as distribuidoras em seu resultado. “Antes, era mais fácil diluir, porque tinha outras fontes de lucro. Agora, a empresa não tem tantos recursos”, completa Castro. As seis distribuidoras, que abastecem 3,7 milhões de consumidores em Rondônia, Piauí, Alagoas, Acre, Amazonas e da cidade de Boa Vista (RR), têm um nível de perdas de energia de 30%, comparável no país apenas à Light, que abastece a região metropolitana do Rio e sofre com altos índices de furto. Além disso, segundo especialistas, enfrentam uma série de dificuldades operacionais ligadas às características de suas áreas de atuação e também à pressão de políticos locais.
Depois de anos sem obter sucesso nas tentativas de sanear as operações, a empresa comunicou ontem ao mercado a contratação do banco Santander para buscar um modelo de venda das empresas. “Pedimos uma avaliação sem preconceitos, para que tenhamos alternativas viáveis para apresentar aos acionistas”, afirmou o diretor financeiro da companhia, Armando Casado, em apresentação para investidores na noite de anteontem. De venda em fatias à alienação total dos ativos, o executivo não descartou nenhuma opção.
Qualquer que seja a escolha, porém, a operação dependerá de decisão a respeito da renovação das concessões das distribuidoras de energia — as que estão sob o controle da Eletrobras vencem em 2015. Analistas do mercado, porém, acreditam que o governo não colocará obstáculos ao modelo indicado pela estatal. A avaliação é que uma gestão privada pode garantir maior eficiência às operações, além de blindar as empresas contra pressões políticas locais.
Embora lute para se livrar das empresas hoje sob seu controle, a Eletrobras tem sido pressionada a aceitar em troca de assunção de dívidas, outras três distribuidoras estaduais, que abastecem Goiás, Amapá e o interior de Roraima. A estatal já vêm contribuindo com a gestão compartilhada das companhias, mas impôs condições para assumir o controle. “Elas precisam ter patrimônio líquido positivo para que a Eletrobras possa entrar”, afirmou Casado. (Brasil Econômico)
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