Começa a funcionar no rio Madeira, em Rondônia, o primeiro sistema de monitoramento da qualidade de água em tempo real em hidrelétricas. Os equipamentos foram instalados em duas pequenas balsas fixas situadas acima e abaixo da futura barragem da usina Santo Antônio que está sendo construída na altura de Porto Velho. Os dados serão transmitidos via celular ou internet, o que possibilita acesso remoto e imediato a qualquer sinal de alteração verificado nessa fase da obra.
A utilização desses equipamentos foi uma exigência do IBAMA, diante da carga de sedimentos carregada pelo Madeira, que pode aumentar com o desmatamento provocado pelo impacto da construção no reservatório. O sistema permite verificar a temperatura da água, a transparência, a condutividade elétrica, o oxigênio dissolvido, a acidez e o potencial de redução de oxigenação. "Será possível dessa forma detectar situações potenciais de alteração na qualidade da água a tempo de prevenir", informa Gina Boemer, da EcologyBrasil, empresa encarregada do acompanhamento ambiental do projeto.
Desafio tecnológico
"Essas sondas são altamente precisas e um desafio tecnológico por estarem colocadas em águas em permanente movimentação", explica Aloísio Ferreira, coordenador de sustentabilidade do consórcio Santo Antônio Energia, formado por Furnas e Odebrecht. O monitoramento contínuo ou em tempo real da qualidade de água em lagos e reservatórios é uma prática introduzida em muitos países que convivem com problemas de contaminação de água.
Em São Paulo, por exemplo, a Sabesp realiza esse tipo de vigilância nas represas de Guarapiranga, Billings e outras. Mas foi necessário desenvolver um software especial para vigiar a qualidade da água do Madeira. Espera-se que haja alteração em todo o fluxo de sedimentos durante e depois do empreendimento. Os dados coletados deverão alimentar o banco de dados do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA), que ficará disponível na internet para atender os órgãos de defesa do meio ambiente, de fiscalização, instituições de pesquisa e usuários das águas do Madeira. "Por meio das medições, será possível verificar também eventuais alterações sobre a vida aquática", diz Ferreira. "Assim poderemos realizar ações tanto preventivas como corretivas."
Exigências do IBAMA
O complexo do rio Madeira é formado por duas barragens: a de Santo Antônio, com capacidade instalada de 3.150 MW, e a de Jirau, com 3.300 MW. A equipe técnica do IBAMA se posicionou contra o licenciamento, e vinculou a sua aprovação a 33 condicionantes que tratam justamente do transporte de sedimentos, além do controle de mercúrio, antes presente nas águas por causa da mineração, e a garantia de que os grandes peixes possam ter um canal de passagem para subir o rio durante a fase de reprodução.
Nos esclarecimentos repassados ao IBAMA, o consórcio avaliou que o assoreamento provocado pela usina de Santo Antônio é praticamente nulo porque, ao contrário das hidrelétricas tradicionais que formam grandes lagos e retêm o transporte de terra pelos rios, esta funcionará a fio d'água. Por esse sistema, as turbinas estão deitadas e são movidas não por uma queda d'água, mas pela correnteza naval, o que mantém constantes a vazão e a velocidade do rio. [Fonte: Veja]