sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Turbinas de hidrelétricas podem parar com reservatórios a 10%

BRASÍLIA E RIO- Em meio a uma grave crise do setor elétrico , na qual o país passou a re corre r à energia da Argentina para atender ao aumento da demanda, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, disseque as usinas hidrelétricas podem parar caso o nível dos reservatórios atinja os 10%. Atualmente , os reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste estão em 17,43% e os do Nordeste , em 17,18%.—Nenhum reservatório de hidrelétrica pode funcionar com menos de 10% de água. Ele tem problemas técnicos que impedem que as turbinas funcionem — explicou. De acordo com Braga, o país enfrentará "pro lemas graves " no fornecimento de energia, inclusive um possível racionamento , caso os reservatórios das principais hidrelétricas caiam a este nível.

O ministro ponderou, porém, que o país ainda está longe deste patamar, embora o país possa estar diante de um ritmo hidrológico que pode se comprovar até mais se ver o que o de 2001:—Mantido o nível que nós temos hoje dos reservatórios , nós temos energia para abastecer o Brasil. É óbvio que, se tivermos mais falta de água, se passarmos do limite prudencial de 10% nos nossos reservatório s, aí estamos diante de um cenário que nunca foi previsto em nenhuma modelagem. O limite de 10% é o limite estabelecido pelo Cepel (Centro de Pesquisas de Energia Elétrica) para o funcionamento das nossas usinas . A partir daí, teríamos problemas graves, mas estamos longe disso.

IMPORTAÇÃO DA ARGENTINA É "ROTINEIRA ", DIZ BRAGA
Na avaliação de Braga, o país tem energia, mas ainda está sujeito a algumas "intercorrências"?— Hoje mesmo tivemos uma em São Paulo. Árvores caíram, provocaram (um problema).Aqui em Brasília, aconteceu outro problema.Ontem, dois apagões atingiram o Distrito Federal. De manhã, 257 mil consumidores ficaram sem luz em seis localidades — Ceilândia, Taguatinga, Guará, Estrutural, Lúcio Costa e Vicente Pires. A energia só foi religada mais de 40minutos depois. No fim da tarde, também houve queda de energia na região central e na Asa Norte de Brasília. Segundo a Companhia Energética de Brasília (CEB), o problema foi causado pelo desligamento em duas subestações de Furnas. A assessoria de Furnas disse que a origem da ocorrência foi um "curto-circuito em um equipamento de conexão associado a um dos transformadores de 345/138 kV da Subestação de Brasília Sul" . A causa do curto-circuito ainda estava sob apuração.

À tarde, o problema ocorreu em uma subestação da própria CEB próxima ao estádio Mané Garrincha. Até o início da noite, não havia ainda uma causa precisa do apagão, mas ele ocorreu durante forte tempestade na região. Segundo nota da CEB, o desligamento da tar de durou apenas dez minutos a partir das 17h35m. Depois, "a subestação foi religada remotamente e o fornecimento de energia para a região foi normalizado ".Sobre a importação de energia da Argentina,Braga disse ontem que ela é "rotineira" e que não é "extraordinária ". Ele afirmou que o Brasil tem um acordo com o país desde 2006 e um sistema interligado para a troca de energia. — Isso sequer é tratado como compra de energia. O que temos é compensação de energia e isso funciona desde 2006 — disse, ao chegar de uma reunião na Casa Civil. Indagado sobre o fato de ter concedido entrevista sobre soluções para a crise sem mencionara importação de energia, Braga disse que não estava a par da operação naquele momento.— Não sabia. Muitas vezes, o que acontece é que, numa determinada região, temos que remanejar (energia) através das linhas de transmissão que estão podendo passar com energia adicional naquele momento. Isso não quer dizer que esteja faltando energia — disse.

ANEEL ESTUDA MAIS PRAZO PARA DISTRIBUIDORAS
Enquanto o governo ainda tenta encontrar uma solução para a crise , o país registrou novo recorde de consumo nas regiões Sudeste e Centro-Oeste na quarta-feira, no horário de pico às 14h32m,com um total de 51.894 megawatts (MW), superando o recorde anterior do dia 19, de 51.596 MW.Com a combinação de temperaturas elevadas e consumo em alta, o país re correu pelo segundo dia à importação de energia da Argentina. No dia 20, foram 165 MW médios do país vizinho . No dia seguinte, mais 90 MW médios. A importação foi necessária para atender uma demanda total do país de 73.780 MW, segundo dados do Operador Nacional do Sistema. Desde dezembro de 2010, o país não re corria à energia argentina para atender a demanda doméstica. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) avaliará, na próxima terça-feira, um novo cronograma para pagamento de dívidas das distribuidoras de energia com o mercado de curto prazo. O prazo de pagamento já havia sido adiado do dia 13para o dia 30, à espera de uma negociação entre as empresas e os bancos para levantar novo empréstimo de R$ 2,5 bilhões, intermediado pelo governo.

Segundo fontes próximas à negociação, os bancos públicos e privados relutam em ampliar seus empréstimos ao setor , alegando risco excessivo de concentração em um único mercado. No ano passado, as empresas contraíram empréstimos de R$ 17,8 bilhões. A dívida das distribuidoras referente ao mês de novembro soma R$ 1,6 bilhão e venceria no dia 30 de janeiro. O empréstimo de R$ 2,5 bilhões leva em conta também o pagamento referente à compra de energia no mercado de curto prazo em dezembro, que só vence em fevereiro. O eventual atraso no cronograma de pagamento deve significar reajuste da dívida, de acordo com a taxa básica de juros ou algum índice de inflação. Comercializadores de energia já pressionam a Aneel a aplicar correção monetária nos pagamentos postergados, alegando prejuízo a todo o mercado. O eventual reajuste da dívida deve aumentar a necessidade de financiamento das empresas, que ainda tentam negociar com o governo um prazo mais longo de pagamento dos empréstimos de R$ 17,8 bilhões obtidos no ano passado. Elas querem pagar em quatro anos, e não em dois anos. (O Globo)
Leia também:
Sucessão de falhas e atrasos
Governo diz que pode haver racionamento
É inútil tentar esconder a crise energética
Dados comprovam falta de energia no Brasil no dia do apagão