A divulgação pelo governo de um leilão de Fontes Alternativas no dia 10 de abril de 2015 pegou de surpresa a União da Indústria da Cana-de-Açúcar e a Associação Brasileira de Energia Eólica. O certame terá três produtos, sendo que a biomassa ficará com dois deles. O primeiro com entrega em 1º de janeiro de 2016, para empreendimentos novos e existentes; e o segundo para julho de 2017, apenas para empreendimentos novos. Já a eólica poderá participar com empreendimentos novos, com início de suprimento em julho de 2017.
Elbia Melo, presidente-executiva da ABEEólica, comenta que, apesar do leilão ter características de um A-2, ele atende os pleitos do setor porque reduz os riscos de transmissão para o gerador. “Neste leilão terá aquele mecanismo de filtro, que garante que os projetos vencedores já tenham a conexão garantida. Como o prazo é muito curto, não poderia ser diferente”, analisa. Ela avalia que isso reduz bastante o risco para o empreendedor em relação ao leilão A-3, que aconteceu recentemente, e ao Leião de Energia de Reserva, que acontecerá em 31 de outubro.
Para Elbia, o leilão mostra com clareza a busca pela expansão do parque gerador de forma rápida para atender as necessidades das distribuidoras que estão com um gap de contratação. Ela explica que um leilão de Fontes Alternativas é muito parecido com um A-3, onde a contratação depende da demanda das distribuidoras.
O gerente de Bioeletricidade da Unica, Zilmar de Souza, diz que é sempre bom ter à frente mais uma possibilidade de comercialização da biomassa da cana, dado que a fonte não foi incluída para o LER de 2014. “Ficamos apenas com o A-5, dado que no A-3 a biomassa concorre com as eólicas e a comercialização tem sido nula”, apontou. O prazo para a entrada em operação dos projetos também foi considerada apertado pela Unica, mas possível. “Vai ter que ter um esforço do governo federal, da Aneel, no sentido de agilizar todos os procedimentos”, declarou.
Para ele, o leilão está dando a possibilidade da fonte participar, com dois produtos específicos, o que demonstra uma mudança de postura. “Se nós tivermos três, quatro projetos negociados já será um avanço”, afirma. Zilmar, assim como Elbia, da ABEEólica, diz que a contratação dependerá muito do preço-teto a ser estabelecido para as fontes no certame. O preço, segundo Zilmar, é o fator mais importante visto que o setor não passa hoje por um momento de expansão dos canaviais. “O grande potencial seria o de reformar as usinas existentes e para isso é necessário um preço mais remunerador para atrair esse tipo de investimento. Esperamos que o preço seja pelo menos o do leilão de Reserva [o certame tem um produto para biomassa a partir de resíduos] ou um preço superior, no sentido de estimular a inserção da biomassa”, comentou.
Zilmar analisou ainda a portaria que estabelece a metodologia de revisão das garantias físicas de usinas a biomassa com CVU nulo. Segundo ele, a nova metodologia torna a garantia física das usinas um pouco mais volátil, visto que a garantia física a ser usada em um ano, será igual a geração do ano anterior. A garantia física só permanecerá a mesmo caso ela gire em torno de 95% a 105% daquela homologada. “Vai ficar mais volátil, dado que em alguns momentos a safra pode ser muito boa e em alguns momentos nem tanto. A volatilidade não é muito bem vista pelo setor, porque ela é uma informação importante para viabilizar o projeto, conseguir financiamento e para realizar a estratégia de comercialização”, explicou.
Um ponto a ser entendido como um pequeno avanço, na opinião de Zilmar, é que a nova metodologia passou a permitir que ganhos de eficiência energética também sejam homologados como aumento de garantia física. “A biomassa é diferente de uma hidrelétrica, onde só há aumento de garantia física quando tem aumento de potência. No caso da biomassa, a redução do consumo de vapor na produção de açúcar e etanol também gera aumento da garantia física”, disse. (Agência Canal Energia)
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