segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Matriz pode fica mais cara por conta da concorrência pelo gás

A estiagem desses dois últimos anos e a construção de usinas hidrelétricas sem reservatórios consolidam a importância da energia térmica na matriz elétrica, uma tendência que deverá ganhar força nos próximos anos, com a maior disponibilidade de gás nacional, com a exploração gradual da camada pré-sal pela Petrobras e suas parceiras. Um cenário que poderá criar uma queda de braço entre indústria e setor elétrico pelo gás, hoje um insumo escasso, e que aponta, com base no planejamento hidrotérmico, que a matriz se tornará mais cara.

Em 2011, a indústria respondeu por dois terços do gás consumido no país e o setor elétrico, por 17%. Dois anos depois, o setor elétrico representou 43% do consumo, e a indústria, 46%. Em maio deste ano, foram 49 milhões de m3 por dia, quase dez vezes mais que o apurado em 2009, com o setor elétrico sendo o maior demandante.

“Esse consumo irregular do setor elétrico torna muito difícil a vida dos empreendedores para firmar contratos de longo prazo”, diz Ieda Gomes, diretora da Energix Strategy. Para ela, será preciso desenvolver uma política de médio e longo prazo para o gás natural ganhar inserção na matriz elétrica nacional. “Há uma crescente necessidade de back-up das térmicas no setor elétrico, mas isso será de gás natural ou de óleo combustível? Não existem incentivos claros e indicações de aonde se quer chegar”, questiona.

Ela vislumbra que o cenário de gás só deve ganhar mais oferta a partir da próxima década, com a exploração do pré-sal, mas aí surgem diversas incertezas. “Qual será o acréscimo de fato da produção? Como será o custo, já que os poços estão a 300 quilômetros da costa e tem muito gás carbônico associado à produção, o que exige sua retirada, que é cara?”, pondera Ieda.

Outra incerteza sobre o mercado de gás é a Bolívia. Hoje o Gasbol responde pelo envio de cerca de 30 milhões de m3 diários. O contrato entre Brasil e o país vizinho expira em 2019, mas há dúvidas se os bolivianos terão capacidade de honrar o contrato já que, desde 2005, com a nacionalização das reservas e a fuga de empresas estrangeiras, a produção estaria estagnada.

Hoje cerca de 60% do mercado são abastecidos por gás importado, sendo metade vindo da Bolívia pelo Gasoduto Brasil-Bolívia e a outra metade oriunda de GNL. O cenário de escassez só deve mudar a partir da próxima década, quando o país deverá dobrar sua produção de petróleo. Associado ao óleo a ser extraído da camada de pré-sal existe gás. Estimativas apontam que pode haver um acréscimo entre 40 milhões de m3 diários a 150 milhões de m3 diários, segundo cálculos de diversas consultorias.

“Existe uma gigantesca dificuldade de se firmar contratos firmes de gás natural, além do preço ser exorbitante”, ressalta o superintendente da Associação Brasileira da Indústria do Vidro (Abividro), Lucien Belmonte.

“No curto prazo, não se vislumbra grande alteração da oferta do gás, mas, com o gás não convencional e aumento da exploração do pré-sal, podemos ver mais gás disponível”, diz o presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia, Paulo Pedrosa. Estudo da FGV Projetos aponta que o gás natural, responsável por 5% da geração de energia, poderá ver sua presença elevada para 17% a 23% até 2040. (Valor Online)
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