segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Déficit na geração hídrica podem reduzir ganhos da Cesp e Cemig

A Cesp e a Cemig, que possuem energia descontratada das hidrelétricas cujas concessões não foram renovadas em 2012, vão continuar ganhando dinheiro com a venda de megawatts-hora no mercado de curto prazo. Mas os lucros estimados pelos analistas já não são tão altos como os obtidos pelas duas geradoras no primeiro trimestre do ano. O desempenho mais fraco deve-se ao déficit no total gerado pelas hidrelétricas, que aumentou de 4% no começo do ano para 6% no segundo trimestre.

As ações das duas empresas acumulam uma forte valorização neste ano, liderando os ganhos entre as elétricas na bolsa. As ações da Cemig, controlada pelo Estado de Minas, já avançaram 57,45% neste ano, enquanto os papéis da Cesp, controlada pelo Estado de São Paulo, subiram 44%. O Ibovespa acumula em 2014 uma valorização de 7,89%, até o dia 08 de agosto, enquanto o Índice de Energia Elétrica (IEE) avançou 10,44%.

As elétricas também têm sido influenciadas neste ano pelas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais e estaduais. Há uma percepção entre os investidores de que o PT será mais intervencionistas. E, sempre que a oposição aparece melhor nas pesquisas, os papéis sobem na Bovespa.

Com a seca, as hidrelétricas de todo país não entregaram para o sistema elétrico cerca de 6% do volume previsto (garantia física) no segundo trimestre. Esse risco é rateado de forma proporcional por todas usinas que integram o sistema nacional - chamado de MRE (Mecanismo de Realocação de Energia).

Sempre que há um déficit na geração hídrica, todas as usinas têm a sua garantia física rebaixada, independentemente do volume vendido. Para honrar seus contratos, as usinas precisam comprar a diferença no mercado de curto prazo (spot) da Câmara de Comercialização de Energia (CCEE). Portanto, quanto menos contratada estiver a geradora, menor o volume que precisará adquirir no spot - e vice-versa.

"A Cesp permanece entre as mais bem posicionadas geradoras no trimestre devido à grande quantidade de energia descontratada, o que explica o aumento nos resultados operacionais [quando comparados aos do ano passado]" escreveu o analista do Morgan Stanley, Miguel Rodrigues.

"Além disso, a receita da Cesp será positivamente impactada em R$ 100 milhões aproximadamente", escreveu a analista Paula Kovarsky, do Itaú BBA. Essa receita adicional resulta de transações efetuadas pelas companhia no primeiro trimestre, mas que não foram contabilizadas.

As estimativas dos analistas para o lucro da Cesp no segundo trimestre variam de R$ 419 milhões a R$ 684 milhões. Esse valor é ainda bem superior que obtido pela geradora paulista em igual trimestre do ano passado, de R$ 264 milhões, mas menor que o obtido nos três primeiros meses de 2014, de R$ 845 milhões.

No caso da Cemig, a geradora mineira registrou um lucro líquido de R$ 1,25 bilhão no primeiro trimestre deste ano. Para o segundo trimestre, as estimativas dos analistas são de números mais modestos, que variam entre R$ 555 milhões e R$ 923 milhões. No segundo trimestre do ano passado, a Cemig apresentou um ganho de R$ 617 milhões na última linha do balanço.

"Os resultados mais fracos são explicados por uma alocação maior de energia no primeiro trimestre de 2014, um déficit na geração hídrica em torno de 6% (após ter sido de 3,9% no primeiro trimestre) e uma deterioração nos resultados da distribuidora, que também serão impactados pela participação de 33% da Cemig na Light", escreveu o analista do J.P. Morgan, Marcos Severine, que está entre os analistas que ainda preveem um lucro maior neste ano que o obtido em igual trimestre de 2013. (Valor Econômico)
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