A percepção de que o governo e os órgãos reguladores serão mais brandos a partir de 2015 com as distribuidoras confirmou-se ontem, quando a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) divulgou que vai propor uma taxa de remuneração do capital de 7,16% para as companhias que passarão pelo 4º ciclo de revisão tarifária, que vai valer de 2015 a 2018. O percentual só será definido em setembro, após a realização de uma série de audiências públicas.
De acordo com os analistas do Credit Suisse e do BTG Pactual, os modelos matemáticos indicavam que a taxa de retorno (conhecida pela sigla em inglês Wacc) cairia para 6,5% no próximo ciclo de revisão tarifária, sistema adotado a partir de 2003 no Brasil. O Wacc é um dos componentes que entram no cálculo das tarifas.
Ontem, as ações da Eletropaulo e da Light, distribuidoras que atendem as principais capitais do país, São Paulo e Rio Janeiro, voltaram a figurar entre as maiores altas do índice Ibovespa. Os papéis da Eletropaulo subiram 3,2%, para R$ 10,07, acumulando em junho uma valorização de 12,5%. As ações da Light avançaram mais 3%, para R$ 21,75, e já acumulam alta de 10% somente neste mês.
Embora não tenham se destacado no pregão de ontem, outras distribuidoras também apresentam um bom desempenho nos últimos dias. A Energias do Brasil, controladora das distribuidoras Escelsa (ES) e Bandeirante (SP), acumula uma valorização de 11,5% em junho, apesar de ter recuado ontem 0,3%, para R$ 10,47.
Os papéis da CPFL, dona de sete distribuidoras em São Paulo e uma no Rio Grande do Sul, fecharam ontem em alta de 0,14%, a R$ 20,23, mas já subiram neste mês 11,15%. As ações da Eletrobras (PNB), que possui seis distribuidoras sob seu guarda-chuva, também avançaram 10% em junho, após registrarem no último pregão uma alta de 0,9%, para R$ 10,66.
O Índice de Energia Elétrica (IEE), que reúne as elétricas listadas na Bovespa, fechou ontem com uma valorização de 0,91%, aos 27.867 pontos, acumulando em junho um ganho de 5,8%
No 3º ciclo, em vigor entre 2011 e 2015, o Wacc das distribuidoras foi de 7,5%. Esse percentual representou uma forte redução em relação às taxas de retorno estabelecidas pela Aneel no 1º e no 2º ciclos, de 11,3% e 10%, respectivamente. Na época, o corte na remuneração do capital refletiu a queda nas taxas de juro, mas também estava em linha com a estratégia implementada pelo governo federal de baixar o preço energia a todo custo, o que ajudou a conter a inflação e a estimular o consumo.
A atual crise energética, porém, expôs fragilidades no sistema elétrico brasileiro e, para tornar o setor mais robusto e seguro, serão necessários investimentos. "É preciso olhar para frente. E qualidade e investimentos são, certamente, questões do futuro, não só tarifas mais baixas", afirma Arthur Ramos, da consultoria Strategy&.
Segundo ele, a redução de 7,5% para 7,16% na taxa de retorno das distribuidoras proposta pela Aneel, ainda que pequena, será bastante contestada nas consultas públicas. Havia uma esperança de que a taxa fosse maior no 4º ciclo, e não menor.
"O sinal teria de ser positivo, e não negativo", afirma Ramos, para quem os indicadores financeiros que compõem a taxa de remuneração, como custo do capital e a percepção de risco, aumentaram nos últimos dois anos, e não o contrário. (Valor Econômico)
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