A construção de usinas hidrelétricas a fio d´água, com menor capacidade de armazenamento plurianual, aumenta o desafio de gerenciar o sistema elétrico e cria a necessidade de expansão do parque térmico do país. Para o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, é importante observar que o uso de geração térmica tem crescido mesmo quando as chuvas estão perto da média histórica.
"A geração térmica é necessária para o atendimento no horário de ponta no fim do período seco, principalmente quando a temperatura sobe. É preciso começar a discutir se faremos hidrelétricas com reservatórios ou se as térmicas irão operar na base", destacou.
Sem construção de usinas com grandes reservatórios, o sistema tem sofrido mais oscilações. Em 2012, no fim do período úmido, os reservatórios estavam em 72%. No fim do ano, caíram abaixo dos 40%. Em 2013, o índice de deplecionamento foi de 22%. "Vai ser preciso mais térmica, não tem milagre", disse.
Entre 2013 e 2018, é prevista a entrada de 20 mil MW de capacidade hídrica no sistema, sendo que 99% dessas usinas não têm reservatórios. "Isso cria uma grande volatilidade e não dá para fazer a operação só com eólica", comentou.
Ambientalistas têm criticado a posição do Brasil de empregar as termelétricas em vez de outras formas de geração de energia alternativas. Essa matriz, que utiliza o carvão como matéria-prima, é altamente poluente e pode contribuir para elevação das emissões de gases do Brasil.
Essa mudança da matriz elétrica traz outra questão: os benefícios de investimentos do setor para outros segmentos, como navegação de rios, captação de água ou irrigação em bacias, ficará mais difícil e poderá se tornar mais restrita. "Pode-se ver uma restrição do uso múltiplo das usinas hidrelétricas, porque irá se buscar maior uso dos reservatórios para aumentar a armazenagem e elevar a eficiência do sistema", avaliou.
Há outra questão a ser observada: grandes usinas hidrelétricas estão e estarão sendo construídas na região Norte, enquanto a maior parte do consumo está concentrada nas regiões Sudeste, Sul e Nordeste. Isso criará a necessidade de transferência de grandes blocos deenergia entre as regiões. "Isso aumenta o risco de grandes ocorrências no sistema, cria a necessidade de ampliação dos troncos de transmissão entre regiões e abre a discussão se vale a pena pagar a adoção de sistemas de contingência dupla nas interligações para reduzir os riscos de ocorrências", observou.
Para Marco Antônio Oliveira, diretor da PSR Consultoria, se o país quiser aumentar a matriz energética com riscos menores, será preciso instalar térmica na base. "Se quiser andar com nível de risco mais baixo, será preciso 15% de térmica. Se olharmos a diferença na geração do período úmido para o seco, você vai ter problema no período seco para operar o sistema. A gente tem que inserir térmicas flexíveis para manter até o nível de participação que ela tem hoje", defendeu Oliveira.
Ele destacou que as eólicas ganharão espaço na matriz, mas são uma fonte intermitente. "Sua operação é complicada, elas são variáveis, não se pode contar com elas em horários de ponta, porque pode não ventar, por isso teremos de ter mais térmicas", observou.
Oliveira estima que a demanda por energia elétrica crescerá 3,6% por ano até 2020 e 2,8% anuais entre 2021 e 2030, quando a demanda, hoje em 66 mil MW, deverá pular para 114 mil. Na matriz de 2030, ele estima que 65% sejam gerados por usinas hidrelétricas, 11,4% por plantas eólicas e 12,5% por gás natural.
"Deverá haver uma perda de 10% da regularização dos reservatórios das hidrelétricas, o que mostra um cenário de volatilidade", destacou. Entre 2014 e 2017, a consultoria prevê uma oferta apertada no balanço entre oferta e demanda, entre 4% a 6%. "Os preços estarão estressados no mercado livre até o fim da década, porque os reservatórios demoram a se recuperar e as hidrelétricas estão perdendo a capacidade de armazenar água."
Para o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura Filho, o gás natural irá ampliar sua presença na matriz ao longo dos próximos anos.
A estimativa é de que o insumo energético pule dos atuais 7,8% para 10,4%, enquanto as hidrelétricas deverão perder espaço: caindo dos atuais 77% para 69%. No conjunto das fontes renováveis, além das eólicas, um dos destaques deverá ser a fonte solar, que deverá ter um leilão reserva específico no segundo semestre. De acordo com dados do secretário, as fontes renováveis no mundo corresponderam a 13,4% da matriz de energia em 2013, enquanto no Brasil 40,5% da energia é gerada por fontes não fósseis. (Valor Econômico)
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