quinta-feira, 15 de maio de 2014

Geradoras engrossam o rombo energético

As pressões das distribuidoras de eletricidade sobre o governo para cobrir seus rombos com a crise do setor se repetem agora nas geradoras. Especialistas já calculam que os custos das empresas de geração com a queda na oferta hidrelétrica podem chegar a R$ 20 bilhões. Isso porque elas precisam recorrer ao mercado à vista para honrar os contratos com clientes. Se somados aos prejuízos no caixa das concessionárias, que podem passar de R$ 20 bilhões, e à necessidade de aporte federal de R$ 6,5 bilhões na Eletrobras, o novo buraco apresentado beira os R$ 50 bilhões.

Para o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, essa perspectiva é assustadora. "Há quem fale em um prejuízo consolidado de até R$ 30 bilhões para as geradoras", estimou. Ele alertou que, diferentemente do que ocorre com as distribuidoras, para as quais o governo precisa encontrar uma solução a fim de garantir o abastecimento dos consumidores, o rombo das geradoras é um problema das empresas, cuja responsabilidade, atrelada às concessões, é produzir energia e colocá-la no sistema.

O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino, já avisou que o risco de exposição das geradoras ao mercado livre faz parte da regra do jogo. Com a falta de chuvas e os reservatórios baixos, as próprias geradoras hidrelétricas são obrigadas a comprar energia mais cara em razão do uso intensivo de termelétricas. O preço do megawatt/hora (MWh) voltou ao teto, de R$ 822,83. Na geração, o tamanho do rombo vai depender de quanto cada companhia vende. Quanto mais contratada estiver, maior será a sua exposição à perda.

"A oferta de energia está cada vez menor. Para 2015, já não há disponibilidade no mercado. A situação está crítica, e vamos chegar ao fim do ano com risco muito grande de desabastecimento", ressaltou o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales. A falta de energia é ainda mais grave que o endividamento do setor.

Aperto
Tal situação também provocou o rombo das distribuidoras, com a diferença que, nesse caso, o governo aportou R$ 1,2 bilhão em recursos do Tesouro e viabilizou um empréstimo de um consórcio de 10 bancos via Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), de mais R$ 11,2 bilhões. Esses recursos, contudo, só foram suficientes para cobrir o prejuízo das distribuidoras até abril. Na avaliação dos especialistas, vai faltar dinheiro para o restante do ano.

O presidente da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto, se aliou às projeções dos analistas e disse, ontem, que o empréstimo bancário da CCEE, que será pago pelos consumidores a partir do ano que vem, não deve cobrir todo o gasto extra das distribuidoras com energia mais cara. "Acredito que vai ser necessário mais algum recurso adicional", disse Carvalho Neto, após participar de uma audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília.

A própria estatal está em busca de uma capitalização de R$ 6,5 bilhões no mercado financeiro. Segundo o executivo, os recursos deverão vir de um financiamento bancário, a ser liderado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ainda que concorde que os recursos são insuficientes para solucionar a crise do setor, Carvalho faz coro ao discurso do governo e descarta riscos de racionamento. "Não é o momento de adotar medidas", salientou. (Correio Braziliense)
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