quarta-feira, 30 de abril de 2014

Custo bilionário ameaça geradoras

Não é só a exposição involuntária das distribuidoras ao mercado de energia de curto prazo que deve causar despesas bilionárias ao país neste ano. As hidrelétricas também estão sendo obrigadas a comprar megawatts-hora no mercado spot, custo que tende a atingir igualmente cifras bilionárias, superiores a R$ 5 bilhões, e ameaça a rentabilidade das geradoras. O Valor apurou que a consultoria PSR prepara um estudo a respeito, que deve ser divulgado nos próximos dias.

Sempre que a geração das hidrelétricas, fator conhecido como GFS (Generation Scaling Factor), não corresponde a 100% do volume previsto pelo sistema elétrico num determinado mês, as usinas ficam expostas. A diferença precisa ser comprada no mercado de curto prazo, despesa que é rateada entre todas as usinas do país que compõem o chamado MRE (Mecanismo Realocação de Energia).

De acordo com André Dorf, presidente da CPFL Renováveis, que possui várias pequenas hidrelétricas que participam do MRE, a empresa está atenta à questão do GSF e está fazendo estudos para calcular os impactos neste ano.

Uma variável crucial na equação, que vai determinar o rombo para as geradoras, será o tamanho da demanda. Se o país consumir menos energia daqui para frente, a situação torna-se ainda mais difícil para as hidrelétricas. Isso porque o Operador Nacional do Sistema (ONS) vem mantendo todas as termelétricas ligadas para atender uma parte da oferta. A Moody´s estima que as térmicas vão continuar gerando 15 mil MW médios ao longo do ano, para uma demanda total de 62,4 mil MW médios no país.

Se o governo decretar oficialmente um racionamento, a lei permite que a oferta de energiaprevista no sistema também seja "rebaixada", o que diminuiria a necessidade das usinas hídricas de comprar energia no mercado de curto prazo para cobrir a diferença, afirma uma fonte. No entanto, se o racionamento não for adotado formalmente, as geradoras terão de arcar com o rombo, que será ainda maior caso as indústrias decidam colocar um pé no freio e desacelerar a produção.

De acordo com a Moody´s, uma redução voluntária de 5% na demanda por sete meses levaria as hidrelétricas a uma exposição de 5,6% ao mercado spot. Esse seria o percentual que precisaria ser comprado pelas geradoras para atender 100% da garantia física prevista no MRE. Mas, se um racionamento de 5% do consumo for oficialmente decretado por um período de sete meses, a exposição das geradoras cairia para 2,8%.

Empresas, analistas de investimentos e consultorias já começam a fazer previsões de quanto as geradoras terão de arcar com a exposição ao mercado de curto prazo neste ano.

Diferentemente das distribuidoras, que receberam socorro do governo para cobrir a exposição ao preços spot, as geradoras precisam arcar com a despesa, que não é repassada automaticamente para os consumidores. Isso porque, quando a produção hídrica supera 100% do GFS, as geradoras lucram com a venda dos excedentes.

No entanto, a regra já não vale mais para as hidrelétricas cujas concessões foram renovadas. Essas usinas ficaram livres do risco hidrológico, que foi transferido para as distribuidoras, amplificando os problemas para o governo federal. (Valor Econômico)
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