sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Agência estuda revisão de rating das empresas do setor e alerta para o risco de racionamento

A classificadora de riscos Fitch Ratings estuda a possibilidade de rever para baixo os ratings das distribuidoras de energia, caso o governo não aprove um subsídio para as empresas, ou conceda um apoio financeiro abaixo do necessário para as companhias. Para a avaliadora de riscos, a decisão de rever os ratings também será influenciada pelo período em que permanecer elevado o preço de energia de curto prazo.

"Ações negativas nos ratings das distribuidoras vão depender das medidas que o governo tomar e o quanto ele será rápido em adotar essas medidas", disse Ricardo Carvalho, diretor sênior de empresas da Fitch. "Se eles [ratings] ficarão onde estão, ou se caminharão para uma classificação inferior, vai depender muito do que a gente enxergar em relação às medidas do governo. E a segunda questão é o quanto esse cenário vai se postergar."

O especialista acredita que o governo federal vai subsidiar as distribuidoras. Esse inclusive é o tom das declarações dadas por representantes do governo. Carvalho, porém, alerta que a capacidade de "funding" do governo não é ilimitada. "Necessariamente, é preciso que as condições meteorológicas sejam normalizadas", disse.

Descontratadas em cerca de 3,2 mil megawatts (MW) médios, as distribuidoras terão de pagar aproximadamente R$ 1,8 bilhão por suas posições descobertas em 21 de fevereiro, quando serão liquidadas as operações do mercado de energia referentes a janeiro, na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). A estimativa é da Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee).

Segundo fontes do setor, se o Tesouro Nacional não liberar recursos até essa data, o desembolso vai desequilibrar o caixa das distribuidoras. E algumas delas podem ficar inadimplentes na CCEE, por não possuírem a quantia para honrar o pagamento. Em fevereiro de 2013, a CCEE foi forçada a adiar a liquidação das posições para dar tempo para que o governo resolvesse o problema. A expectativa é que a mesma solução seja dada este ano, evitando, assim, que os gastos sejam repassados às tarifas dos consumidores de energia.

As distribuidoras, em geral, tratam do tema com cautela e apreensão. A elétrica catarinense Celesc, porém, informou ao Valor que avalia buscar financiamento para arcar com a conta, caso o governo não aprove o auxílio nas próximas semanas. 

Se o Tesouro decidir não subsidiar as despesas com as térmicas e com a elevação nos preços do megawatt-hora no mercado de curto prazo, como fez em 2013, as tarifas para o consumidor teriam de subir 10%, segundo o presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), Reginaldo Medeiros. Mas fontes do setor calculam que o reajuste poderia ser ainda maior, o que teria um forte impacto sobre a inflação. Em reunião realizada na quarta-feira, no Ministério de Minas e Energia, o governo buscou "acalmar" os executivos das distribuidoras, mas não apresentou uma solução. Estima-se que os gastos este ano alcancem R$ 10 bilhões.

O governo separou R$ 9 bilhões no Orçamento para o setor, mas fontes dizem que os recursos estão comprometidos com outras despesas, como a aquisição de combustíveis em 2013. O diretor da Fitch também alertou que, se as condições climáticas atuais permanecerem por dois meses, ele não vê outro caminho que não seja a adoção de "medidas mais restritivas com relação ao consumo de energia". "Embora o governo diga que ´não´, qualquer análise mediana da situação atual indica que existe um cenário preocupante. E esse cenário dependerá muito do que acontecer nos próximos dois meses", disse Carvalho. (Valor Econômico)
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