segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Represas de usinas terão ´teste de assoreamento´

As geradoras de energia serão obrigadas a atualizar os dados dos reservatórios das hidrelétricas. O trabalho vai mostrar se os lagos das usinas - algumas com mais de 50 anos - estão assoreados ou não, a ponto de influenciar no volume de água armazenada e na produção de energia. Entre técnicos do setor, há suspeitas de que o volume de água divulgado nas represas seja menor que o real.

Uma resolução conjunta das agências de energia elétrica (Aneel) e da água (ANA) determinou a medição da área e volume de 150 represas espalhadas pelo Brasil (no total, são 195 hidrelétricas). As empresas terão dois anos, a partir de 14 de março, para entregar o relatório final com os dados. Em dezembro do ano passado, a ANA publicou um relatório com as orientações técnicas para que as geradoras possam fazer a revisão da chamada curva cota x área x volume.

Segundo o diretor-presidente da ANA, Vicente Andreu, apesar das recentes dúvidas em relação ao efeito do assoreamento no volume de armazenamento das represas, a medida faz parte de uma decisão tomada em 2010. De lá pra cá, as duas agências fizeram várias reuniões com representantes das empresas para definir as regras e critérios da medição.

Ficou estabelecido que, com base nesse levantamento, as empresas terão de rever a curva cota de dez em dez anos. Em alguns casos, no entanto, as agências podem definir prazos menores, dependendo do retrato mostrado na primeira medição. "O objetivo é montar junto com as concessionárias uma rede de monitoramento das hidrelétricas e conhecer a situação dos reservatórios", disse Andreu.

Estudos feitos pela PSR e pela Thymos Energia mostraram que as estatísticas oficiais sobre a capacidade de armazenamento estão mais otimistas que a realidade. Um dos motivos levantados pelos especialistas seria o assoreamento das represas mais antigas - ou seja, o volume de água registrado seria menor que o real. O presidente da Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia (Abrage), Flávio Neiva, considera a desconfiança exagerada: "O assoreamento é muito pequeno e irrelevante, pois pega a área morta dos reservatórios (abaixo das turbinas)."

Mas essa não é a opinião de técnicos da Aneel. Em relatório publicado em 2000, eles afirmavam que, em 20 ou 30 anos após a construção das usinas, a sedimentação nas margens dos rios poderia "criar condições de crescimento de plantas aquáticas que irão, certamente, se deslocar para perto da barragem e mergulhar pelos condutos, prejudicando a geração de energia." Além disso, completa a agência, os casos de assoreamento têm se multiplicado com o aumento da erosão nas bacias hidrográficas.

Para especialistas, a medição da curva cota será importante para reforçar ou afastar as suspeitas levantadas com o rápido esvaziamento dos reservatórios em 2012. A simulação da PSR mostrou que o nível deveria ter sido de 50% naquele ano, enquanto os dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mostraram 33%.

"Estamos fazendo um planejamento que não é real, de um recurso que não existe. Por isso, é importante investigar a fundo possíveis mudanças no sistema hídrico", afirma Rafael Kelman, diretor da consultoria. (Agência Estado - 19/01)
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