segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Elétricas chinesas avançam no Brasil

A aquisição, na semana passada, de 50% de participação em duas importantes hidrelétricas em fase de construção no Brasil pela China Three Gorges Corporation (CTG), estatal que controla a megausina de Três Gargantas, no rio Yangtze, é mais uma prova do grande apetite das elétricas chinesas pelo mercado brasileiro. "Temos visto bastante interesse dos grupos chineses, não só do setor de energia elétrica, como também de petróleo de gás", diz Fabiano Luz de Brito, do escritório de advocacia Mattos Filho.


Ao mesmo tempo em que CTG investe em projetos de geração de energia hídrica, a gigante chinesa State Grid avança no setor de linhas de transmissão, enquanto a CNPC e a CNOOC buscam campos de petróleo. As duas petrolíferas chinesas entraram no consórcio que venceu o leilão do campo de Libra, liderado pela Petrobras. Já a State Grid é considerada uma forte candidata na disputa pelo "linhão" de Belo Monte, uma obra de R$ 5 bilhões, cujo leilão está previsto para o início de 2014.

A CTG comprou uma participação direta de 50% nas hidrelétricas de Santo Antonio do Jari, no Pará, e Cachoeira Caldeirão, no Amapá, que pertenciam à subsidiária do grupo português EDP no Brasil. O grupo chinês já possui 21,3% do capital da elétrica portuguesa desde 2011. Na época, a Three Gorges derrotou outros interessados no leilão de privatização da EDP, entre eles a Eletrobras, reforçando a sua estratégia de internacionalização.

Agora, o grupo chinês consolida sua presença no Brasil, passando a deter uma posição direta nos empreendimentos controlados pela multinacional portuguesa. O acordo também fortalece a EDP, que pode ganhar musculatura para disputar novos projetos no Brasil. A empresa já declarou ter interesse na hidrelétrica de São Manoel, avaliada em R$ 2,2 bilhões, que será leiloada no dia 13 de dezembro.

Pela participação na usina de Jari, que possui uma capacidade instalada de 373 MW e deve ser concluída em 2015, a CTG vai pagar R$ 490 milhões. Pela participação na hidrelétrica de Cachoeira Caldeirão, que possui uma potência instalada de 219 MW e deve começar a vender energia em 2017, o valor aportado será de R$ 294 milhões.

Alguns analistas receberam bem o acordo com a estatal chinesa. As ações da EDP do Brasil chegaram a subir 3,9% na manhã de sexta-feira, após o anúncio, mas terminaram o dia com uma alta mais modesta, de 1,44%, cotadas a R$ 11,95.

Três Gargantas é a maior hidrelétrica do mundo em capacidade instalada, com 22,5 mil MW de potência. As obras, de proporções faraônicas, começaram ainda em 1994, mas a usina só atingiu seu pleno funcionamento em julho de 2012. Além de operar hidrelétricas na China, a CTG passou a investir em usinas fora do país e já possui uma presença internacional expressiva, com negócios na Ásia, África, Oriente Médio, Canadá, EUA, Peru e Colômbia.

Apesar do forte interesse, os chineses não rasgam dinheiro e suas propostas não são muito mais agressivas que a de outros competidores, afirma o advogado do escritório Mattos Filho. A petrolífera chinesa Sinochen, por exemplo, perdeu recentemente uma disputa para aquisição de uma participação acionária no bloco Parque da Conchas, na Bacia de Campos, colocado à venda pela Petrobras.

A State Grid entrou no Brasil em 2010 ao comprar, de uma só vez, sete linhas de transmissão da Plena Transmissoras, e já desembolsou no país cerca de R$ 7 bilhões, incluindo a aquisição de cinco linhas da espanhola ACS.

Hoje, os ativos da estatal chinesa no Brasil já somam 6 mil quilômetros de extensão, o que coloca a empresa no grupo das grandes transmissoras do país, praticamente atrás apenas da Eletrobras, com 55,7 mil quilômetros, da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (Cteep), com 19,2 mil quilômetros; e da Taesa, com 9,4 mil quilômetros.

A State Grid, porém, arrematou em 2012 a linha de transmissão que conectará o complexo hidrelétrico de Teles Pires (MT) com o Sistema Interligado Nacional (SIN), de 1,62 mil quilômetros, o que elevará seu portfólio para quase 8 mil quilômetros.

O plano estratégico da companhia é investir R$ 10 bilhões no Brasil até 2015, incluindo os desembolsos já realizados desde 2010. Esse valor, no entanto, pode aumentar caso a empresa feche algum novo negócio ou adquira novas linhas de transmissão. (Valor Econômico)
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