Vendas em baixa e adiamento de novos projetos têm levado grandes consumidores de eletricidade a uma atuação mais intensa no mercado de energia. Segundo fontes do setor, empresas como Vale, Usiminas e Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) estão conseguindo transferir, a bons preços, volumes de energia comprados no passado para sustentar novos projetos ou expectativas de aumento de produção que não se concretizaram devido à mudança do cenário econômico. As empresas evitam falar do assunto, mas no mercado comenta-se que a venda de excedentes de energia pode garantir um alívio nos balanços do segundo trimestre, que foi marcado por altos preços da energia no País.
Em maio, o Preço de Liquidação de Diferenças (PLD), referência para as negociações no mercado livre, chegou a bater R$ 344 por megawatt-hora ( MWh). Em junho, esteve na casa dos R$ 200. “Os excedentes que estão sendo vendidos hoje foram comprados em torno dos R$ 100 por MWh”, comenta um executivo de comercializadora de energia, que acompanha de perto a atuação. “É uma questão conjuntural. Com a economia crescendo menos e as exportações afetadas pela crise europeia e pela desaceleração da China, grandes consumidores saem em busca de oportunidades para vender seus excedentes”, analisa o professor Nivalde de Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ (Gesel).
O setor siderúrgico, por exemplo, amargou, no primeiro semestre, queda de 2,2% na produção de aço bruto, de 29,2% na produção de semi-acabados e de 31,3% na produção de placas. Já as exportações de minério de ferro caíram 1,4% no mesmo período. O cenário tem levado empresas a reduzir produção, postergar novos projetos e até parar equipamentos. Grandes companhias siderúrgicas e do setor de mineração geralmente contam com estrutura própria para comprar e vender energia, que têm tido participação atuante na ponta vendedora do mercado nos últimos meses.
Os compradores, em geral, têm sido comercializadoras independentes, que negociam o excedente em mercado spot. As operações de venda de energia por grandes consumidores devem se tornar um mercado mais ativo a partir de de fevereiro do ano que vem, quando entra em vigor a portaria 185 do Ministério de Minas e Energia (MME),que autoriza a cessão de excedentes diretamente pelas empresas. A medida, que regulamenta o artigo 23 da Lei 12.783, de renovação das concessões de geração de energia, deve melhorar ainda as condições para o fechamento de contratos de longo prazo de fornecimento para grandes empresas, dizem especialistas do setor.
“As empresas se sentirão mais seguras para fechar contratos de longo prazo, sabendo que poderão vender os excedentes no mercado, caso a conjuntura econômica, ou qualquer fator externo, influenciar sobre o consumo”, diz o presidente da bolsa de energia Brix, Marcelo Mello. “A energia deve começar a ser tratada como um insumo, que pode ser negociado de acordo coma necessidade de produção de cada empresa”, concorda o diretor comercial da comercializadora Bolt Energia, Rodolfo Salazar. Atualmente, 28% do volume de eletricidade consumido no Brasil é vendido no mercado livre de energia, segundo informações da Associação Brasileira das Comercializadoras de Energia Elétrica (Abraceel).
Este mercado tem, entre seus agentes, 60% da produção industrial brasileira, diz a entidade. Já o fornecimento de energia para consumidores cativos, como residências e parte do comércio, é garantido em leilões de energia realizados pelo governo, com liquidação de eventuais déficits ou sobras na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. (Brasil Econômico)
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