Como as novas regras para o setor elétrico, instituídas pela MP 579, vão reduzir as receitas de empresas do ramo de geração e transmissão de energia — a estimativa é de perdas de R$ 13 bilhões por ano —, as companhias terão de tomar providências para reduzir bastante os custos num curto prazo. E a maior despesa fixa da maioria está na folha de pagamento.
Por isso, elas deverão reduzir o número de funcionários, estimular aposentarias e demissões voluntárias e remanejar empregados. “Para se adequar, será preciso fazer grandes inversões de custo de mão de obra. Agora, no curto prazo”, diz André Luis de Castro, gerente de planejamento da Copel. “E as estatais não podem simplesmente demitir.” Ele acredita que, com o tempo—dois ou três anos, até as novas revisões tarifárias —, as empresas se recuperarão. “Será preciso buscar mais eficiência, com cortes no custo fixo, que é composto de pessoas,materiais, ser-viços e outros”, ressalta.
Mas a capacidade de recuperação não é homogênea entre as empresas afetadas, diz Ricardo Savoia, gerente de estudos de regulação e tarifa da consultoria Andrade&Canellas Energia. O problema, diz Castro, é que o setor, de grande complexidade e altamente regulado, demanda grande entendimento. “Demora de três a cinco anos para formar um profissional.” Na área de energia, são comuns carreiras de mais de duas décadas numa mesma companhia.Além do mais, os sindicatos são fortes.
Portanto, espera-se algum atrito nos próximos meses. Furnas, por sua vez, já está empenhada em uma reestruturação organizacional, que vem sendo conduzida pela consulto-ria internacional Roland Berger Strategy Consultants, com o suporte financeiro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com quem assinou convênio em setembro.
O ajuste prevê a renovação, via desliga-mento voluntário, de empregados aposentados ou aposentáveis até julho de 2013. Cerca de 1,7 mil funcionários se inscreveram no plano. “O Projeto de Reestruturação Organizacional é parte da série de medidas que vem sendo tomadas desde março deste ano para aumentar a eficiência, reduzir custos operacionais e otimizar a estrutura”, apontou a empresa em nota. A Cesp não quis se pronunciar, bem como a Chesf.
Há resistência para tratar do assunto, embora as demissões estejam no horizonte do setor há mais de um mês. “Todos terão de cortar custos”, disse Alexei Marcorin Vivan, presidente do conselho de administração da Associação Brasileira das Concessionárias de Energia Elétrica (ABCE). Para as companhias, o problema não é apenas se adaptar a um cenário de ganhos menores, mas fazê-lo em curtíssimo prazo. “As empresas terão de se ajustar às nova realidade rapidamente”, diz Savoia, da Andrade& Canellas. “Desde o governo Lula, a questão não foi encarada.
Agora, saiu às pressas, a exemplo do terceiro ciclo de revisões tarifárias. As empresas têm pouco tempo hábil para a maturar os efeitos das novidades.” A frustração de receitas também ecoa nos investimentos— a capacidade das companhias vai cair. De imediato, já se sabe que elas perderão capacidade de alavancagem. “Cortes exagerados na regulação por incentivos e preço-teto podem trazer falta de investimento”, diz Savoia. (Brasil Econômico)
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