quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Reestruturação de estatais pode afetar programas sociais

O governo deverá enfrentar obstáculos políticos para promover redução de custos do Grupo Eletrobrás como parte do processo de adequação das contas destas estatais às condicionalidades de renovação das concessões de energia elétrica. Diante do desafio de dar mais eficiência da gestão financeira das estatais, o governo deverá adotar mais restrições aos pedidos políticos de ações sociais e de desenvolvimento econômico que estão entre os componentes que comprometem boa parte do orça-mento das companhias. 

Dentre as empresas do Grupo Eletrobrás, a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) é a mais tradicional em priorizar projetos de desenvolvimento econômico e social no Nordeste em detrimento aos investimentos em atividades essencialmente ligadas ao seu negócio. Como compensação natural da instalação da usina de Itaparica (entre Bahia e Pernambuco), a Chesf mantém programa de lotes de reassentamento de famílias que consumirá R$ 143 milhões do orçamento deste ano. Além disso, também cumpre uma série de outros investimentos sociais fruto de emendas parlamentares na região de combate à seca e para o apoio a produção agrícola.

 “A Chesf é considerada um patrimônio do nordeste para fazer projetos sociais e esta característica naturalmente aparecerá como um obstáculo para o programa de reestruturação financeira da companhia”, afirma o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. “Acredito que haverá esforços para não romper com essa tradição, mas quando o processo de reestruturação da Eletrobrás chegar até a Chesf, com certeza vai dar briga.” O programa de reestruturação financeira do Grupo Eletrobrás começou nesta semana com Furnas. 

A subsidiária fechou um convênio com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para o projeto de reorganização da empresa, batizado de PRO-Furnas. A perspectiva é a de reduzir o número de funcionários da empresa em 28% por meio de programa de demissão voluntária. Segundo o Ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, ainda é muito cedo para especular sobre os impactos sociais da reorganização financeiras das estatais, já que elas têm até o dia 5 de fevereiro para finalizar reestruturação financeira. 

“As empresas ainda estão na madrugada dos anúncios, mas esta-mos na esperança de que isso se possa resolver sem alterações profundas nos planos da Eletrobrás", afirma Lobão. "As preocupações do governo são sempre no sentido de preservar os empregos.” Os cortes de custos em todas as empresas Eletrobrás deverão se concentrar na racionalização da rubrica chamada PMS (Pessoal Manutenção e Serviços). 

As estimativas da Eletrobrás seguem na direção de um corte de pelo menos 30% nos custos atuais da holding, o que não ira afetar os investimentos, uma vez que os financia-mentos de grandes projetos — como Belo Monte, Angra 3, Teles Pires, as usinas do Madeira, os “linhões” do Madeira e Tucuruí-Macapá-Manaus — já estão garantidos. (Brasil Econômico)
Leia também:
* Lobbies atacam MP do setor elétrico
* Furnas dá exemplo no corte de custos
* Governo prepara desindexação do preço de energia
* Prorrogação das concessões: Luz e escuridão
* Decreto mitiga risco hidrológico para o consumidor