Embora o descredenciamento de fabricantes de equipamentos eólicos da lista de itens que podem ser financiados pelo BNDES modifique, por hora, as condições de mercado, a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica) e a consultoria especializada em energia Excelência Energética não acreditam que haverá impacto já nos próximos leilões de geração, marcados para outubro.
Para Élbia Melo, presidente da Abeeólica, a baixa demanda por energia vai colaborar para que as alterações do panorama de financiamento não afetem o mercado nesse primeiro momento. "Sabemos que haverá um número reduzido de fornecedores, mas dizer que isso vai aumentar os preços é muito cedo, até porque estamos com uma demanda muito baixa. Esperamos que seja contratado, no máximo, 1GW eólico - isso numa estimativa muito otimista", avalia Élbia.
O diretor-executivo da consultoria da Excelência Energética, Erik Rego, tem uma opinião alinhada com a da chefe da Abeeólica. "Ainda que se tenham três ou quatro empresas com condições de empréstimo diferente, mesmo assim se tem uma oferta grande de fornecedores para atender o mercado. Algumas dessas empresas estão até com capacidade de produção ociosa no Brasil e fora. Além disso, a oferta de equipamentos atualmente é muito grande. Nestes leilões, acredito que as modificações de mercado não terão um efeito significativo".
Já o diretor da Multiempreendimentos, Pedro Cavalcanti, que também é dirigente da Abeeólica, concorda que o assunto Finame não vai gerar impactos nos leilões. Mas acredita que outros fatores contribuirão para elevar a tarifa praticada pelas eólicas no certame. "Fique certo, o preço vai alterar. Há muitas incertezas atualmente - variação de câmbio, entre outros fatores - que seguramente vão fazer com que esses preços sejam diferentes do último leilão."
Imbróglio - A retirada dos fabricantes do Finame aconteceu após uma mega auditoria surpresa do BNDES, que identificou que seis empresas não cumpriam o índice de nacionalização necessário para se manterem no cadastro. O chefe do departamento de fontes alternativas do banco, Antonio Carlos Tovar, disse nesta semana que quem fechou contrato com essas companhias não ficará sem empréstimos - mas receberá financiamentos calculados pelo IPCA, e não mais pela TJLP - usada normalmente pelo banco estatal.
Na prática, isso significa que quem pegar R$ 100 milhões com o BNDES com a taxa baseada no IPCA pagará, em um ano, cerca de R$ 10 milhões em juros, ante R$ 6,4 milhões se a taxa considerada fosse a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo). "O banco fez o que pôde", resigna-se Élbia.
Na avaliação da executiva da Abeeólica, essa taxa mais alta terá impacto direto no fluxo de caixa dos empreendedores. Élbia também acredita que "é possível” que alguns projetos não fiquem de pé devido ao aumento do custo de capital e à redução a taxa de retorno. "Pode acontecer. Mas, pelo que se sabe, o BNDES não vai levar a uma situação tão limite dessa. Há sempre uma saída".
Segundo Élbia, o BNDES acenou que, dos seis fabricantes que tiveram seus registros suspensos três devem retornar rapidamente à lista do Finame. O banco, porém, não revelou os nomes das companhias.
A reportagem também questionou se a opção para investidores poderia ser buscar equipamentos e financiamentos chineses. Élbia explica que é possível, mas complicado. "O custo de capital lá fora é alto. O investidor fica vulnerável à taxa de câmbio. Além disso, estamos numa condição em que o financiamento do BNDES ainda é mais competitivo. A melhor saída é retornar ao Finame." (Jornal da Energia)
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